por Elisandra Vilella G. Sé
"Nossa vida é como uma comédia: ninguém repara se foi longa, e sim se foi bem representada"
Sêneca
Constantemente hoje ouvimos as pessoas adultas e idosas dizerem:“Devemos valorizar o tempo, valorizar os minutos, porque a vida é uma oportunidade a ser aproveitada”. Outros ainda me dizem “Eu não me preocupo com os padrões de beleza, porque bonito é a gente continuar sendo a gente mesmo em quaisquer situações”. E estão cobertos de razão, porque a tendência é rever os estereótipos associados ao envelhecimento.
Por muito tempo o avanço da idade esteve atrelado à imagem negativa associada à velhice, como se a velhice fosse um processo contínuo de perdas e de dependência. Essa ideia já algum tempo tem sido substituída pela ideia de que os estágios mais avançados da vida são momentos propícios para novas conquistas. O que importa é nossa idade funcional, o nosso senso subjetivo de idade, o significado que damos à idade biológica, isto é, como cada pessoa avalia os marcadores biológicos, sociais e psicológicos presentes no seu curso de vida.
O limite de idade entre o indivíduo adulto e o idoso é de 65 anos para os países desenvolvidos e 60 anos para os países em desenvolvimento. O critério cronológico é adotado devido à dificuldade de estabelecer nossa idade biológica, dificuldade que a Gerontologia Biomédica ainda tem em definir quando inicia o processo de envelhecimento.
O critério da idade cronológica é adotado por instituições que procuram dar aos idosos, atenção à saúde física, psicológica e social.
A maneira como a vida é periodizada e as interpretações que são dadas a diferentes faixas etárias é diferente em cada sociedade e em cada cultura que marcam tipos de organização social e político. Cada grupo social em diferentes culturas tem o processo biológico elaborado culturalmente e simbolicamente. Em todas as sociedades podemos observar grades de idades para a periodização da vida. Somos atores de uma organização social. Entretanto, o que mais importa é como diz a famosa frase de Sêneca "Nossa vida é como uma comédia: ninguém repara se foi longa, e sim se foi bem representada”.
Na verdade nossa idade biológica é um referencial para o processo de socialização. Os aniversários são simples rituais de passagem. Fatores como sexo, classe social, saúde, educação, fatores de personalidade, história passada e contexto sócioeconômico mesclam com a idade cronológica. Dessa forma, as experiências de envelhecimento e velhice podem variar no tempo histórico de uma sociedade. Assim, temos a nossa idade biológica e cronológica, a idade psicológica e a idade social.
Para que tenhamos explicações significativas sobre o processo da vida e suas consequências, existem teorias que explicam os estágios e processos da vida adulta e velhice, assim como também existem as que explicam o desenvolvimento infantil. Ou seja, as mudanças comportamentais que acontecem ao longo do tempo e que caracterizam as diferenças que existem entre os indivíduos e grupos com relação a como e por que desenvolvem e sobre como e por que envelhecem desta ou daquela maneira.
A idade psicológica refere-se à relação que se estabelece entre a idade cronológica e o potencial de funcionamento do indivíduo. A idade social tem relação com a avaliação da capacidade de adequação de um indivíduo ao desempenho de papéis sociais e comportamentos esperados para as pessoas de sua idade num dado momento histórico.
Graças a grandes pesquisadores que estudaram o curso de vida, foi possível desenvolver paradigmas sobre a extensão da vida, uma concepção que abrangesse o desenvolvimento em toda sua extensão e não apenas em períodos particulares. Fases da vida ordenadas por mudanças em atitudes, propósitos, realizações, avaliações, restaurações, revisão, crescimento e estabilidade. Conforme algumas concepções sobre o desenvolvimento da vida adulta e da velhice a segunda metade da vida (depois dos 40 anos de idade) o ser humano passa por uma restauração do equilíbrio psicológico, como aponta Jung (1933).
Para um outro autor Erik Erikson (1950), a vida adulta e a velhice são um período que devemos dar conta de oito crises psicossociais e das tarefas evolutivas, nas quais caminhamos para o senso de integridade e sabedoria. Ainda temos outros autores que concebem o desenvolvimento como uma construção de estrutura de vida, o qual passa por períodos de transição, cujos períodos nós nos preparamos para as mudanças e a velhice é o período que fazemos a reestruturação do tempo de vida olhando mais para o tempo que ainda resta para viver. Por isso é que a vida é uma oportunidade a ser aproveitada e feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver.
O sistema de idade cronológico baseado no sistema de datação, no qual o indivíduo tem de dar conta das capacidades e tarefas atribuídas a cada estágio da vida é muito mais preconizado nas sociedades ocidentais. Como por exemplo, aos 22 anos tenho que me formar na faculdade, aos 27 casar e ter filhos, trabalhar até os 50 e depois se aposentar. Não precisamos dar conta o tempo todo de uma norma de idade, procurando incorporar estágios de maturidade e de status social e cultural. A melhor idade é o tempo que vivemos as melhores histórias. Todo tempo é tempo para restaurar e corrigir, começar e recomeçar. Quanto aos padrões de beleza, bonito é gostar da vida.