por Roberto Goldkorn
Tenho certeza de que você já pensou nisso: tudo que acontece na sua vida, tem um propósito ou é apenas uma sucessão de eventos aleatórios?
Há os que acreditam serem todos eventos aleatórios, que os mais crentes enxergam como significativos por uma mistura de ingenuidade, egocentrismo juvenil e tendência mental para organizar de forma inteligível "desenhos" que não se correlacionam entre si.
Outros mais radicalmente visionários acreditam que até uma chave que cai no chão na hora de abrirem a porta – é um aviso – tem um significado oculto apenas esperando ser decifrado.
Parte das pessoas acha que a Vida "fala" com elas o tempo todo e parte acha que a vida simplesmente não "fala" por que não tem boca.
Onde está a verdade? Obviamente no caminho do meio.
Achar que uma entidade superior se dedica a nos mandar mensagens cifradas em forma de acidentes, encontros/desencontros fortuitos, esquecimentos, e situações diversas, pode ser um pouco de egocentrismo demais.
Entendo que se ver como especial no meio da multidão é uma tentação quase irresistível para alguns.
Na faculdade de Psicologia estudei por alguns meses com um rapaz que me confidenciou estar absolutamente convicto de ser a reencarnação de Jesus Cristo, pois o próprio Deus lhe revelou esse segredo. Delírios à parte, muita gente boa enxerga a si mesma como parte de uma história com muitos personagens, no qual elas têm um papel definido e tudo o que acontece tem um propósito, pertence a um enredo.
Para os céticos tudo é aleatório, os eventos são ora criados pela sua determinação de fazer seu próprio destino, ora resultante de poderosas forças sociais ou da natureza.
A visão do Caminho do Meio nos diz que existe sentido sim em muitos fatos que aparentemente são aleatórios, o próprio Freud chegou a essa conclusão ao dimensionar o dinamismo do Inconsciente e suas linguagens e formas de manifestação.
Ainda estamos longe, porém de mapear toda a mente humana, mas sabemos que dali, de outras instâncias do nosso próprio ser, vêm muitas das ocorrências cujo propósito é dar sentido (na acepção de direção) à nossa vida. Os sonhos que para os mais céticos nada significam, são exemplos claros disso.
Querer ver na queda de uma chave um sentido, um aviso dos céus ou da nossa própria mente, pode parecer um pouco exagerado, mas saber que existe um diálogo ininterrupto entre as várias dimensões de nosso próprio ser, é estar mais próximo da verdade e da sensatez.
Certa vez ao se aproximar o Natal, estávamos eu e minha família passando por momentos muito difíceis. Minha mulher sonhava em ter uma bela árvore de Natal, mas não podíamos nem nos dar ao luxo de fazer essa despesa. Morávamos numa casa e no quintal dos fundos havia no chão de cimento um recorte quadrado de terra, que só nos dava trabalho para constantemente arrancarmos o mato que ali insistia em crescer.
Lá pelo dia 10 de dezembro percebi que havia crescido muito rápido um mato bem no meio do quadrado de terra. Prometi a mim mesmo arrancá-lo e esqueci. Passaram-se alguns dias e vi que o mato havia crescido muito e tomava forma. Mais alguns dias e de repente me deu os tais cinco minutos e fui até lá disposto a tirar com raiz e tudo aquela erva daninha. Mas não consegui. Parecia que as raízes daquele mato estavam mais profundas e mais fortes que eu podia imaginar. Deixei de lado prometendo voltar depois munido de armas mais poderosas, mas esqueci. Os dias passaram até que nas vésperas do Natal minha filha mais velha me chamou e disse: "Papai tem uma árvore de Natal lá nos fundos".
A caminho para ver a tal árvore já ia me dando conta do que se tratava e entendi emocionado a mensagem dos céus.
Eu ganhei uma árvore que já estava com "milagrosos" um metro e cinquenta centímetros e cheia de vitalidade com seus ramos apontando para o alto simétricos, verdinhos pedindo para segurar as bolas douradas e prateadas do natal. Entendi a mensagem.
Mudamos a nossa expectativa em relação ao dinheiro, aos presentes que gostaríamos de dar e receber, e tivemos um Natal fantástico, fomos tomados pela alegria de termos uns aos outros.
Nessa época me sentia muito sozinho, com um peso enorme da responsabilidade sobre meus ombros e poucos recursos para seguir em frente. Nesse Natal um pequeno milagre interno aconteceu – e tive a certeza de que a tal da "minha solidão" era um mito pessoal, uma invencionice baseada em percepções superficiais e materialistas.
O arbusto árvore de Natal, mostrou-me uma lição importante: quando a Verdade é maior que as mentiras não pode ser arrancada, porque não lhe pertence e sim ao Cosmo – cabe a você compartilhá-la ou não.
Hoje sou treinado para ver na minha vida e na vida dos outros as mensagens que eventos aparentemente fortuitos podem trazer. Identificar padrões e ver neles capítulos ocultos da história de vida de cada um e seu significado. Mas também busco a lucidez isenta para ver numa chave que cai das mãos apenas uma manifestação de mãos trêmulas ou sobrecarregadas de pacotes.
Acredito que precisamos ter uma atenção especial para manifestações sutis do Espírito e da Mente na nossa vida. Mais do que nas páginas dos livros, a Inteligência Divina se expressa assim, sem legendas, sem vírgulas, sem precisar de tradução para a sua língua.
Privilegiados não são aqueles que recebem uma árvore de Natal num quadrado de terra em seu humilde quintal, e sim os que conseguem perceber o sentido das coisas imponderáveis, sorrir, agradecer e seguir em frente.