por Elisandra Vilella G. Sé
Ultimamente vem surgindo muitas pesquisas que investigam a aproximação entre ciência e religião.
Atualmente existem diversos centros de pesquisa interessados em investigações sobre ciência e espiritualidade. Ciência e religião são dois campos que têm se relacionado de maneiras diversas.
As perguntas de pesquisa giram em torno das questões que indagam se existe no homem a vocação para a transcendência, o sagrado, a busca do sentido da vida, se a oração tem poder terapêutico… Se tem, quais razões levariam a essa correlação? As pessoas que adotam práticas religiosas teriam uma melhor qualidade de vida? Essas práticas fazem as pessoas viverem mais e melhor? A fé diminui o estresse? Isso tudo pode ser importante na terceira idade. São questões instigantes que médicos, psicólogos e pesquisadores investigam por várias razões.
Estudos que associam religião, espiritualidade e ciência têm enfrentado muitas dificuldades. O principal desafio é vencer o preconceito de que assuntos relacionados à fé não podem ser estudados de forma científica. Outro desafio é discutir os conceitos de mente, corpo, espírito e alma.
Para alguns autores a mente é um produto do cérebro, para outros a mente e corpo não se individualizam. Além disso, outro fator importante é o fanatismo religioso. Em muitos casos se comprova o efeito negativo do fanatismo, fazendo com que as pessoas muitas vezes neguem condutas médicas. Entre os efeitos psicológicos negativos do fanatismo estão a geração de culpa, diminuição de autoestima, repressão de raiva, ansiedade, crenças punitivas, favorecimento de dependência e conformismo.
Psiquiatras afirmam que estados alterados de consciência geralmente são acompanhados de obsessões religiosas ou alucinações de conteúdo místico. Já foi possível observar por parte de pesquisas científicas que a saúde física e mental de quem adota práticas religiosas como a prece e a meditação é melhor que a da população em geral.
Esses estudos foram publicados nas seguintes revistas científicas: British Medical Journal, The Lancet e Annals of Internal Medicine. Entre os motivos que explicariam a correlação, é que essas pessoas fazem parte de uma comunidade religiosa e, portanto, têm em torno de si um grupo de sustentação social, o que pode ser particularmente importante na terceira idade e em momentos de forte estresse.
Além disso, a prece e a meditação parecem ser estímulos psíquicos suficientes para fazer variar os níveis de alguns neurotransmissores, hormônios e *imunomoduladores. Porém, essa relação ainda é pouco compreendida no terreno da ciência. Existem hipóteses bastante plausíveis segundo a qual o hábito de rezar regularmente indicaria uma personalidade otimista e confiante no futuro, o que facilitaria a superação dos momentos difíceis da vida. A crença e a fé atuaria como mecanismo da autorregulação e autorreflexão que permitem a pessoa exercer controle sobre a motivação, o pensamento, o comportamento e a vida emocional, bem como organizar suas autopercepções, como é bastante discutido no campo da psicologia do envelhecimento.
Dados publicados na revista da Associação Médica Americana revelam que 79% da população adulta americana está convencida de que a espiritualidade pode ajudar a curar; 63% acham que profissionais de saúde deveriam considerar os aspectos espirituais do paciente. Entretanto, algumas pesquisas sobre o assunto apresentam problemas de metodologia, pois cada religião vivencia a prece e os demais rituais religiosos de maneira bastante particularizada.
Os judeus e cristãos, por exemplo, oram como maneira de pedir ou agradecer uma graça. Já nas religiões orientais, fala-se em meditação, uma prática de autoconhecimento e purificação. Por isso muitos cientistas dizem ser arriscado concluir algo.
As primeiras pesquisas acerca dos benefícios da fé foram desenvolvidas com voluntários dedicados à vida religiosa, como padres, freiras e monges. O problema descoberto mais tarde, é que os hábitos dessas pessoas, tais como alimentação saudável, abstinência de álcool e tabaco, poucas preocupações com o futuro e pouco estresse e exercício do autoconhecimento, já seriam suficientes para explicar a longevidade, a boa qualidade de vida e a saúde física e mental nesse grupo.
Uma pesquisa realizada por canadenses que comparou idosos que frequentavam grupos católicos com outros que não frequentavam, descobriu que o grupo que frequentava celebrações da igreja tinha menos problemas cerebrovasculares.
Outras pesquisas também demonstram que grupos de pessoas que tinham um exercício espiritual mais rigoroso, como no caso de mórmons e adventistas apresentaram pressão arterial mais baixa. Isso não significa que deve ser prescrita a prática religiosa para pacientes. A prece é uma intervenção antiga, muito usada para amenizar sofrimento e promover a saúde, mas os resultados de pesquisas sobre os efeitos da prece não podem ser interpretados como prova de que pode ou não ter um efeito mensurável e quantificável na saúde das pessoas.
Sabemos que a prática da fé, a capacidade de transcendência, a participação de grupos religiosos em paróquias, templos entre outros favorece as redes de relações, a sustentação de vínculos afetivos duradouros positivos e interações sociais. Isso tudo favorece a vivência de emoções positivas e ajuda a dar um sentido e orientação à vida.
* Imunomoduladores são substâncias que alteram o tipo, a velocidade, a intensidade ou a duração da resposta do sistema imunológico. É o sistema do nosso corpo que produz anticorpos, as células responsáveis em proteger, defender nosso organismo contra agentes infecciosos, micro-organismos, bactérias, parasitas, doenças etc.