por Patricia Gebrim
Quando foi que nos tornamos esse bando de gente mimada?
Me perdoem os que não se encaixam nessa descrição, generalizações são sempre injustas, e sei que serei um pouco injusta neste artigo, mas penso que precisamos seriamente refletir sobre a forma absolutamente autocentrada como temos agido uns com os outros. De certa forma, construímos um trono cravejado de diamantes e nele, acima dos outros mortais, colocamos nosso Eu, "a majestade".
Por todos os lugares vejo pessoas absolutamente cegas, incapazes de olhar para além do espelho, hipnotizadas pela própria imagem. E assim vão deixando um rastro de mal-estar por onde passam. Querem ser atendidas na frente de outros quando têm filas a enfrentar, cortam os motoristas no trânsito quando querem passar, tratam mal as pessoas quando são contrariadas, e por aí vai. Um desfile de crianças vestindo roupas de adultos.
Também vejo gente mimada nos relacionamentos, sempre esperando serem tratadas como especiais, sem compreender que relacionamentos saudáveis precisam de duas mãos, dar e receber, trocar, cuidar, respeitar. Mas as pessoas mimadas querem, ou melhor, "exigem", receber o melhor de tudo, sem dar de si mesmas. Querem ser atendidas no seu tempo, esperam que os outros se importem com elas, se dobrem às suas vontades, satisfaçam seus desejos, cumpram suas expectativas, as façam felizes. É assustador. Quase como se o outro não existisse. Se pudessem instalariam controles remotos nos parceiros, para que fosse mais fácil controlar cada um de seus passos.
Ok. Ninguém está livre de ter seus momentos de imaturidade. Todos nós podemos ter momentos de menos consciência, em que agimos como as crianças egocêntricas que fomos um dia, mas pelo bem de todos nós, precisamos crescer, mais do que nunca, pois a verdade é que precisamos uns dos outros para construir uma vida minimamente justa e feliz.
Precisamos sair dessa bolha de individualismo e aprender a cooperar e a juntar esforços para o bem de todos, ou seremos todos carregados por essa onda de ignorância e egoísmo que estamos criando coletivamente, ao tentar viver como se não existisse neste planeta ninguém mais, além de nosso próprio Eu, "a majestade".