por Roberto Goldkorn
Não sou muito fã de datas comemorativas como Dia da mulher, Dia da criança, Dia da secretária, etc. Como dizia a Baby Consuelo, todo dia é dia de índio. Mas pelo menos para uma coisa servem essas datas (além de dar uma forcinha para o comércio) para que a gente escreva ou diga coisas relevantes ou irrelevantes sobre os homenageados.
Minha sobrinha que trabalha numa multinacional me revelou que a chefe dela, a chefe da chefe e a 'presidenta', são mulheres e mães, ah ela ia esquecendo a presidente mundial também tem a letra a no final do título. Sob esse ponto de vista temos muito a comemorar.
Observando a arrancada das mulheres em direção ao topo da pirâmide social/profissional sou obrigado a confessar: os homens não as convidaram para a festa, ninguém estendeu um tapete vermelho diante delas. Tudo o que conseguiram foi arrancado, conquistado, cada palmo de terreno foi batalhado com tenacidade. Todas as armas (que não eram muitas) foram usadas. Se isso vai melhorar a condição das mulheres e do resto da população em geral, só poderemos avaliar daqui há uns vinte ou trinta anos. Mas não podemos ter a menor dúvida de que sob esse ponto de vista as mulheres estão vencendo uma dura batalha pela sua independência financeira, liberdade e dignidade.
Mas três dessas mulheres vitoriosas foram brutalmente atingidas nesse último mês por seus maridos ou ex. Uma ainda luta entre a vida e a morte com 80% do corpo queimado por gasolina que o marido jogou. Essas mulheres não leram o meu livro Dormindo com o Inimigo e encenaram justamente as características que eu menciono como sendo a vítima preferencial. O caso mais ilustrativo é da última, uma dentista de 42 anos. Segundo a reportagem, ela conheceu num site de relacionamento um homem. Dez dias depois marcaram para se conhecerem pessoalmente. Em quinze dias estavam namorando. Um mês depois ele se mudou para a casa dela. Todos na família sem exceção, foram contra o casamento marcado para semanas depois, não só pela velocidade em que os passos eram dados mas porque ele demonstrava ser um mau caráter. Não sei dos pormenores mas ela provavelmente alegava: “Não se metam, sou maior de idade, independente, pago as minhas contas e sei o que estou fazendo”. Justamente o tipo de atitude comum às mulheres que conquistaram o seu espaço na sociedade. Mas o seu sucesso profissional não foi antídoto suficiente para uma doença gravíssima que se alastra epidemicamente entre elas: Uma combinação letal de carência afetiva aguda e cegueira crítica.
No meu livro não consigo responder a essa pergunta: O que faz uma mulher bonita, jovem, bem-sucedida se envolver com um tipinho mal-acabado, grosseirão, cafajeste, e que nem mesmo é modelo de beleza do circo dos horrores? O que leva uma mulher que teve critérios para escolher caminhos, vencer dificuldades, fazer escolhas acertadas profissionalmente, a se apaixonar pelo seu futuro algoz? Alguns podem dizer: Mas ela não podia adivinhar que o sujeito seria seu futuro algoz. Podia sim, da mesma forma que todos os que a cercavam “adivinharam”. É sempre aquela maldita falsa história de “ouvir a voz do coração”.
O que está oculto nesses crimes é um casamento nefasto entre um ser fragilizado pela carência afetiva e premência de amar, outro que ainda está localizado emocionalmente em tempos no mínimo medievais. Infelizmente, as conquistas sociais e profissionais não foram acompanhadas de conquistas tão grandes do ponto de vista do controle das emoções.
O amor, ou a necessidade dele, ainda domina a agenda sentimental da maioria das mulheres, das presidentes de companhias às donas de salão de beleza. E quanto aos homens predadores, só posso votar-lhe o meu mais profundo desprezo e maldizer o dia em que nasceram.
Espero que no próximo Dia Internacional da Mulher, não tenhamos mais notícias de nossas rainhas vitimadas pelas suas escolhas equivocadas. Todos nós, seremos seres melhores se tivermos ao nossa lado mulheres felizes, altivas e vivas.