por Aurea Afonso Caetano
Responsabilidade social virou tema da moda. Temos ouvido falar bastante a respeito disso, muitas empresas tem usado esse discurso em sua propaganda, o que parece ter transformado esse tema na “bola da vez”. Mas fico me perguntando: será possível ter responsabilidade social sem ter responsabilidade individual?
Dois dos conceitos que considero mais importantes em meu trabalho como analista são os conceitos complementares, a meu ver, de ego e consciência.
Não falo aqui de consciência no sentido moral do termo, muitas vezes utilizado de forma automática. Por exemplo: fazer um exame de consciência, colocar a mão na consciência, ou algo assim. Falo da consciência enquanto aquilo que conheço a meu próprio respeito e a respeito do mundo.
Para compreender melhor esse conceito, trago a formulação de Jung que propõe a noção de Ego como centro da consciência ou seja: tudo o que estiver em referência a ele, EGO, é ou está consciente. Ego, como “centro” da consciência é o fator que dá sentido ao mundo e assinala a natureza individual desse sentido. Sem um ego não é possível nenhuma experiência do mundo; ego ou eu é o núcleo de tudo aquilo que é ao longo do tempo atribuído a mim, aquilo que diz respeito a experiências de quem sou eu, como sou eu, qual minha história. O que me permite contar algo a respeito de mim mesma, o que me permite conhecer a mim e ao mundo; quem sou eu, quem é o outro.
Volto então ao tema proposto hoje: a única forma de verdadeira responsabilidade social é ser responsável por mim mesma e por meus atos. Para que eu possa fazer diferença no mundo, preciso estar realmente apropriada de quem na verdade sou. Apenas na medida em que puder me conhecer, saber de meu tamanho, posso cuidar de mim e também do outro.
Não existe a possibilidade de olhar apenas para o outro, há sempre, em toda situação um desejo pessoal, uma motivação mais ou menos consciente, uma expectativa. O desenvolvimento e o reconhecimento daquilo que é único e verdadeiro em nós é a única possibilidade real de troca com o outro fora de mim, seja o social ou o individual. Ou como dizia Jung: “… A meu ver, a tarefa mais nobre da psicoterapia no presente momento é continuar firmemente a serviço do desenvolvimento do indivíduo. Procedendo desta forma, o nosso esforço acompanhará a tendência da natureza, isto é, faremos com que desabroche em cada indivíduo a vida na maior plenitude possível, pois o sentido da vida só se cumpre no indivíduo, não no pássaro empoeirado dentro de uma gaiola dourada.”