por Lilian Graziano
Vivemos na era do imediato, do prazer instantâneo e isso pode afetar não só a forma como vivemos as experiências positivas mas a maneira como encaramos as ruins.
Assim como queremos, e rápido, aquilo que nos faz bem, tendemos a não tolerar o contrário, o que nem sempre é possível. Isso nos torna seres com baixa tolerância à frustração, o que pode ser um problema. Comportamentos impulsivos estão intimamente ligados a esse tipo de situação, tanto para buscar, incondicionalmente, o prazer, quanto para afastar o mal-estar.
É nesse mecanismo que se apoiam também as compulsões, o uso de drogas, a alimentação compulsiva ou baseada em açúcar, a recorrência aos rápidos resultados das perigosas cirurgias plásticas ou bariátricas, em detrimento de um longo, porém duradouro, trabalho de educação física e nutricional.
Também é o que nos faz mudar incessantemente de emprego, carreira, em busca daquilo que sonhamos (realização, dinheiro, reconhecimento e status), esquecendo-nos de que essa conquista, muitas vezes, depende do tempo que passamos em uma empresa, de galgar espaço e adquirir experiência em diversas funções. O mesmo ocorre com os relacionamentos interpessoais, cada vez mais descartáveis. Quer melhor retrato de nossa época do que este?
Um estudo que se iniciou nos anos 60, porém, é o maior indicativo de que ter autocontrole é essencial para ser bem-sucedido. E isso parece não ter mudado de lá pra cá. O psicólogo Walter Mischel, da Universidade Columbia, em Nova York, EUA, colocou várias crianças de 4 anos em uma sala cujo único foco de atenção era um prato com um marshmallow. Elas poderiam comê-lo, ou aguardar, por um tempo determinado sem comer o doce, para, ao fim dessa contagem, ganhar dois marshmallows.
Algumas não aguentaram e comeram o primeiro doce. Mas aquelas que conseguiram aguardar pela gratificação dos dois marshmallows se deram muito melhor na vida. Não só foram muito melhor na escola como, na vida adulta, obtiveram ótimos resultados. Entre os que não aguardaram, diversos problemas, até com drogas, foram relatados, para além das notas ruins.
O sofrimento pela espera, no entanto, foi visível para todas as crianças que participaram do teste. A forma como elas enfrentaram o problema é o fator interessante da história. Algumas tinham estratégias como dar uma lambidinha no doce, tirar um pedacinho. Outras viravam de costas, assobiavam… distraíam-se com seus próprios pensamentos.
A estratégia para enfrentar a adversidade (e sobre a qual a Psicologia Positiva tem se debruçado desde o seu início) se dá o nome de coping. A Psicologia Positiva tem se interessado em estudar as estratégias de coping mais funcionais, tais como a capacidade de um dado indivíduo de, diante do estresse, conseguir, dentre outras possibilidades, sobrepor suas emoções positivas às ruins no enfrentamento do problema, mirando no positivo (os resultados, a gratificação) para conseguir passar por tal obstáculo. Imagine o quanto isso pode surtir efeito em sua carreira, no trabalho corporal, nos relacionamentos?
Penso que, a partir desse conhecimento, exercitar seu autocontrole, a partir das estratégias mais funcionais de coping, se necessário, não seria nada mau. No trabalho de Mischel, é visível que há uma influência genética na prevalência dessas características, mas, como já dito nesta coluna, há muito que se fazer com os outros fatores que não são ditados pelos genes.