por Samanta Obadia
Ao iniciar este texto, sinto-me num lugar estranho, por ser mãe e não pai, por ser mulher e não homem. Porém, este lugar me interessa na medida em que me coloca num ‘lugar entre’, de quem observa.
E o que me provoca a escrever estas linhas é a percepção desta mudança perversa do lugar do pai, que se perde na cultura, que evolui em alguns parâmetros em detrimento de outros.
Arriscando o lugar da família, a mãe, unificadora e mantenedora da moral, por excelência, sai de casa para auxiliar no sustento da mesma. Essa saída rompe com um cotidiano, abre novos olhares sobre a formação da maternidade e, consequentemente da paternidade, principalmente no que tange à autoridade dessa última.
O pai, antes provedor onipotente, não é mais o único, pois divide a sua função com a esposa (mãe). E, como reflexo disso, aliado ao fato de que não gera e pouco cuida da prole, perde o seu posto, ilusoriamente estabelecido pela tradição.
O lugar do pai é o da autoridade, do limite, do poder. Antes mesmo de Jesus Cristo, este conceito era claramente imposto pelo judaísmo, na relação humana com Deus. Todavia, a aproximação cristã da figura do pai, inaugurou na linguagem um novo olhar, uma nova percepção de Deus, do pai, e, obviamente, do padre, mas não lhe retirou o poder, a autoridade.
É preciso inicialmente, convocar a sociedade a pensar o passado na direção do presente, que insiste na negação da humanidade, enquanto produto de uma história que se ‘arruma’ a cada ato.
Ser pai é entender, antes de tudo, que por mais mudanças que haja na sociedade, há uma vocação que se instala no coração daquele que deve anunciar a autoridade, o limite, o caminho.
Ser pai é estar atento ao(s) filho(s), em seus desejos, em suas escolhas, em suas angústias. E sabendo fazer uso de sua sabedoria e experiência, ensinar o filho a ‘pescar’ para que ele cresça, seja livre e independente.
Atualmente, por falta de tempo e de aprendizado da autoridade paterna, deixamos de crer na onipotência divina, desprezamos a experiência de nossos pais e vestimos a falsa ideologia de que somos todos iguais. Ser pai não é o mesmo que ser mãe. É assumir um lugar, antes de tudo, de autoridade, na educação de seus filhos.