por Patricia Gebrim
“O bem também precisa saber guerrear, lutar licitamente para proteger a si mesmo.”
Você é daquelas pessoas bacanas e compreensivas que sempre acredita nos outros, tenta ajudar e colaborar, procura respeitar o espaço alheio, sabe se colocar no lugar do outro, age com generosidade, coloca amor na maioria das suas atitudes?
Não há dúvida do valor de pessoas assim nos dias de hoje, quando tantos agem de forma autocentrada e egoísta, visando meramente ganhos pessoais, sem se importar com o que acontece ao seu redor. No entanto, aos bondosos e generosos, eu faço uma pergunta:
– Vocês são capazes de ser assim consigo mesmos? Agem como se fossem seus próprios melhores amigos e protetores? Sabem se manter longe dos predadores? Sabem avaliar quem de fato merece receber o que vocês têm a dar?
Pois nem todos merecem os seus tesouros, a sua generosidade, a sua doçura, da forma como você costuma ofertar. Não estou aqui sugerindo que tenham que atacar ninguém, mas precisam compreender que algumas pessoas ainda não estão prontas para respeitar e valorizar sua postura aberta e não defensiva. Algumas pessoas não serão capazes de perceber o quanto isso é lindo e valioso, e irão tentar se aproveitar, e obter vantagens, e tirar o que puderem de você. Algumas pessoas irão ferir vocês, se vocês permitirem. Ouça, a bondade em você nunca o colocaria na situação de permitir que outros lhe façam mal. E se sua “bondade” fizer com que você seja ferido, acredite, ela é o mal disfarçado de bem.
Pessoas fazem coisas ruins às vezes. O fato dessas pessoas estarem ainda atreladas a esse nível de consciência empobrecido e carente de amor não quer dizer que não devam ser amadas. Talvez sejam exatamente essas as pessoas que mais precisem de amor. Mas esse amor precisa ser oferecido com certo cuidado, sem ingenuidade. Eu posso amar um cão ferido e querer ajudá-lo. Mas precido saber que nesse estado ele possivelmente tentará me morder. É preciso que eu me proteja ao me aproximar.
Vejo pessoas maravilhosas sendo feridas e desrespeitadas, sem se darem conta de sua própria responsabilidade no que lhes acontece. Precisamos aprender a acessar nossa intuição para perceber melhor com quem estamos lidando. Devemos ser bondosos com nós mesmos em primeiro lugar. Sair do lugar de vítimas, afiar as garras se necessário, lutar para cuidar de nosso ser, se assim for preciso. O bem também precisa saber guerrear, lutar licitamente para proteger a si mesmo. Só assim será real. Só assim será um dia capaz de amar livremente o que o cerca. Sem medo.
Entenda que sua primeira e mais bela tarefa nesta vida é a de existir e lutar para que sua alma possa se expressar, expressar sua luz, sua sabedoria, seu amor. Para fazer isso é preciso resgatar sua força, seu poder mais verdadeiro.
Você tem o direito de se afastar das pessoas que, cegas, não enxergam que somos todos parte de um todo indivisível e que ferir o outro seria o mesmo que ferir a si mesma. Afaste-se quando alguem ferir você, e, se necessário, lute. Seja seu mais envolvido defensor. Defenda a justiça. Não permita que o tratem injustamente. Não passe por cima de si mesmo para satisfazer outro alguém. Uma pessoa que ame você de verdade nunca irá lhe pedir para fazer nada que lhe cause mal só para realizar um desejo pessoal, atingir uma meta, ou o que for. Saiba diferenciar o falso do verdadeiro amor.
Não abandone ou traia a si mesmo por ninguém, isso não é amor. É subserviência, fere sua alma, é o mal disfarçado de bem.
E se você se permitir ser ferido assim, não culpe ninguém, assuma a responsabilidade por ter colocado a si mesmo nesse lugar. Perdoe a si mesmo e tente fazer melhor numa próxima vez.
Afinal, é assim que crescemos.