Aceitar solicitação de amizade é “convidar” alguém para uma festa em sua casa

por Marcio Berber Diz Amadeu – Psicólogo componente do NPPI

Alguns dias atrás, um amigo meu terapeuta comentou sobre o receio de exposição que a presença em redes sociais poderia causar.

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Com Orkut, Facebook, Twitter e outras redes os profissionais ligados à saúde mental correm o risco de ter a sua vida pessoal exibida para pacientes, mas será que precisa mesmo ser assim?

Alguns terapeutas (não apenas psicólogos) têm certa preocupação sobre como se portar online. Há sempre o receio de que a vida pessoal seja observada pelo paciente e isso possa atrapalhar de alguma maneira o processo terapêutico.

O meu objetivo aqui, é apenas tecer algumas considerações sobre como um terapeuta pode se posicionar de maneira produtiva nas redes sociais e na internet de uma maneira geral.

Facebook

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A rede social mais acessada do Brasil (e que continua crescendo) possui cerca de 42 milhões de usuários somente no nosso país. Já é um dos sites mais acessados por aqui, e exatamente por isso a maior parte desde artigo refere-se ao Facebook. É sobre ele que provavelmente os terapeutas têm mais dúvidas a respeito da autoexposição.

Aceitar amigos

Se você já está no Facebook, a principal maneira de se conectar com as pessoas nessa rede é adicionando “amigos”. De maneira geral você recebe convites para ser adicionado como amigo de pessoas que conhece, mas ocasionalmente de desconhecidos também. Você é encontrado tanto pelo seu nome completo como pelo seu e-mail. Por isso, caso divulgue um e-mail publicamente, é provável que pessoas tentem lhe adicionar através desse endereço.

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A questão principal é quando um paciente lhe tenta adicionar como amigo. Se ficar em dúvida, pense da seguinte maneira: você convidaria esse paciente para uma festa na sua casa onde podem estar presentes seus amigos mais íntimos e sua família? Esse é um bom parâmetro para considerar a conexão com um paciente na rede social.

Aceitar o convite de algum paciente significa que você o está convidando para sua vida pessoal. Não é nossa intenção aqui ditar normas ou regras, mas apenas lembrar qual é a mensagem que você pode estar passando ao seu cliente ao aceitar esse convite. Esse contato pode ser compreendido como uma confusão nos papéis de paciente-terapeuta. Pode ainda trazer problemas relativos à confidencialidade do tratamento, confiança no terapeuta, segurança e sentimento de rejeição. E, além disso, pode trazer questões sobre a relação entre o que é compartilhado na internet e as informações que o paciente traz no tratamento.

Conteúdo compartilhado

O Facebook funciona a partir do compartilhamento de informações. Se o seu perfil estiver visível publicamente, considere que cada compartilhamento, atualização de status ou mesmo pessoas com as quais você se relaciona, podem estar visíveis ao seu paciente, mesmo que esse não o adicione como amigo.

De maneira geral, os pacientes buscam informações dos seus terapeutas na internet e um tipo de conteúdo relativamente fácil de ser encontrado é o seu perfil público do Facebook. Por isso é recomendável realizar ao menos uma busca e verificar que tipo de informação a seu respeito está visível publicamente e, ainda, se tais informações condizem com a imagem de terapeuta que você pretende exibir socialmente.

Espaço pessoal e profissional

Nosso espaço pessoal na internet não está sujeito a nenhum código de ética profissional. Porém, a partir do momento que você decide manter um perfil ou página profissional, lembre-se que esse deve também ser regulado pelos mesmos princípios legais e de ética que regem a sua profissão. Tenha em mente que mesmo se relacionando com os clientes a partir de uma rede social, você ainda mantém as responsabilidades relativas à sua categoria profissional.

Linkedin

Linkedin, caso você não conheça, é uma rede estritamente profissional, fundamentada no networking para divulgação de trabalhos, negócios, oportunidades de carreira e aspectos profissionais.

Mesmo sendo um ambiente voltado para a profissão, as mesmas cautelas relativas ao Facebook são necessárias. Quando você adiciona um paciente como contato profissional ele saberá, a partir daquele momento, detalhes da sua formação (prévia ou futura) locais onde trabalha, e com quem mais você se conectará. Ou seja, essa rede também pode ser fonte dos mesmos problemas relativos à confidencialidade e ética citados anteriormente.

Colaboração e transparência

Há diversos modelos de redes sociais disponíveis que permitem divulgar o seu trabalho, criar diálogos com profissionais da mesma área, encontrar conteúdo relacionado para discussão e isso pode ser extremamente benéfico para qualquer terapeuta.

Nunca antes foi tão fácil encontrar pessoas que se interessam pelo mesmo tipo de trabalho, que compartilham informações sobre métodos e técnicas, que estão dispostas a discutir e dialogar sobre possibilidades de atuação e tudo isso independente da distância física. Não apenas o Facebook como outras redes (e toda a internet!) nos oferecem essas possibilidades.

De forma geral, precisamos ainda aprender como nos portar diante dessa diminuição de barreira entre a vida pessoal e profissional. A ética deve sempre guiar o trabalho que realizamos com outros seres humanos e as redes sociais não escapam dessa norma.

Particularmente, acredito que nós terapeutas não precisamos nos ocultar e nos privar desse modelo de relação que surgiu com as redes sociais. É necessário cuidado, mas todos nós temos a possibilidade de usar de maneira frutífera sites como Facebook, Twitter ou qualquer nova rede que possa surgir com o tempo. Talvez o grande desafio seja aquele que existe desde antes da internet: Como a sua vida pessoal influencia o seu trabalho como terapeuta. Apenas isso.

Obs.: para saber mais sobre o tema: http://www.psychotherapy.net/article/psychotherapists-guide-social-media