por Alex Botsaris
Acupuntura, essa milenar arte chinesa de tratar utilizando agulhas em locais específicos da pele, vem sendo cada vez mais investigada pela ciência. Sempre intrigou os cientistas como a acupuntura poderia agir de forma eficiente em problemas tão diferentes de saúde. Alguns resultados pareciam quase mágicos, em especial no tratamento de dor crônica, onde a acupuntura consegue resultados quando todos outros métodos da medicina já haviam falhado. Também é intrigante as respostas de pacientes com seqüelas neurológicas. As pesquisas recentes vêm agora revelando como isso acontece.
Foi descoberto que a acupuntura estimula uma capacidade das células nervosas chamada de neuroplasticidade que permite que novas conexões se formem entre elas. Com essas novas conexões formam-se também novos circuitos nervosos que podem conduzir estímulos que antes estavam bloqueados. A neuroplasticidade ocorre naturalmente e faz parte do processo de recuperação que qualquer pessoa com seqüela neurológica experimenta. A vantagem é que a acupuntura aumenta de forma significativa essa capacidade das células nervosas de estabelecerem novos contatos, e com isso a recuperação dos problemas neurológicos é maior e mais rápida.
Nos pacientes com dor crônica, foi descoberto que há uma correlação entre a extensão da área do cérebro que é estimulada quando o paciente sente dor, e a intensidade e sofrimento causados pela dor. A acupuntura atua modulando essa tendência à expansão da área cerebral estimulada pela dor, que diminui, e com ela os sintomas e o sofrimento do paciente. Esse efeito neuromodulador da acupuntura pode ainda explicar ainda outras das suas ações como a de reduzir a ansiedade e melhorar a qualidade do sono. Isso explica porque o efeito analgésico da acupuntura pode ser permanente e com isso livrar do sofrimento os portadores de dor crônica.
Ainda no cérebro a acupuntura inibe a liberação de um neurotransmissor chamado substância 'P', que atua como um potente mediador da reação de estresse. Inibindo essa substância, e aumentando a liberação de endorfinas a acupuntura restaura o funcionamento normal do cérebro e corta o estresse do dia-a-dia, sendo uma excelente opção para esse problema tão comum nos dias de hoje. Mas as ações da acupuntura no estresse não se limitam a isso. Ela também causa um relaxamento periférico na musculatura aliviando o quadro de tensão muscular que acompanha o estresse mental. Cientistas descobriram que isso acontece por um mecanismo chamado arco reflexo – é um caminho que o estímulo nervoso faz, indo pela via sensitiva e voltando pela motora – , através de um inibição dos neurônios motores do *corno anterior da medula.
Acupuntura estimula o sistema imunológico
Foi também descrito o mecanismo pelo qual a acupuntura influencia o sistema imunológico. Ela atua em proteínas chamadas conexinas que existem na membrana de muitas células, inclusive as de defesa, estimulando-as em suas funções. Foi demonstrado em pacientes com câncer, recebendo quimioterapia e imunodeprimidos, que a acupuntura estimula a função das chamadas células 'T' auxiliares além de melhorar a capacidade de glóbulos brancos englobarem e destruírem bactérias. Um mecanismo semelhante explica os efeitos da acupuntura na asma e na alergia. O estímulo de células 'T' aumenta a formação de anticorpos do tipo IgG, e como conseqüência uma redução dos do tipo IgE, que causam as reações alérgicas.
Outros estudos ainda mostraram que a acupuntura aumenta estímulos específicos através do nervo vago, que restauram os movimentos normais do intestino chamado de movimentos peristálticos. Esse é um dos mecanismos que explicam a ação da acupuntura em problemas digestivos crônicos, como prisão de ventre e sindrome do cólon irritável. A ciência estás demonstrando que a acupuntura possui mecanismos de ação mais complexos e variados do que se supunha inicialmente. Espera-se que com os avanços da pesquisa científica possamos aumentar a eficiência da acupuntura.
*Corno anterior da medula: no meio da medula existe uma parte chamada substância cinzenta onde ficam as células nervosas. Essa substâcia faz duas reentrâncias sobre a parte externa chamada de substância branca, onde ficam os prolongamentos das células, que depois formam os nervos. Cada reentrância é chamada de corno, uma fica na parte de traz da medula (corno posterior) onde estão as células sensitivas, e outro fica na parte da frente (corno anterior) onde ficam as células motoras.
Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.