por Jocelem Salgado
Gota é uma doença antiga causada pelo excesso de ácido úrico no sangue e a alimentação é a principal causa de sua crise
A gota é uma das doenças mais antigas registradas na história da Medicina. Trata-se de uma doença crônica, não contagiosa, mas que passa pelas gerações de uma mesma família.
Estima-se hoje que 2% da população mundial sofre de gota e que entre os doentes, há uma mulher para cada oito homens. A doença que aparece geralmente após os 35 anos de idade, ocorre devido a um acúmulo de ácido úrico no sangue e isto pode acontecer tanto pela produção excessiva quanto pela eliminação deficiente da substância.
O ácido úrico é uma substância produzida pelo nosso organismo quando da utilização de todas as proteínas que nós comemos na alimentação do dia a dia . Numa explicação mais simples, pode-se dizer que quando as moléculas de proteínas dos alimentos são partidas em pedaços dentro do nosso organismo para servir de energia, o que sobra de todo esse processo é o ácido úrico. É normal que o ácido úrico esteja presente no sangue em quantidades previstas, mas quando ocorre uma produção excessiva ou uma deficiência na sua eliminação pelo rim, a sua concentração no sangue pode aumentar demais atacando principalmente as articulações, provocando a gota úrica, ou os próprios rins, produzindo cálculos renais (pedras nos rins).
Os valores considerados normais de ácido úrico no sangue são:
Homens adultos = 3,4 – 7,0mg/dL
Mulheres adultas = 2,4 – 6,0mg/dL
A progressão da doença
Nas articulações, o começo de tudo é uma dor forte, geralmente no dedo maior de um dos pés. A articulação do pé, por ser naturalmente desprotegida é geralmente a primeira a ser atingida pela gota. A dor é aguda e súbita e a região onde a crise acontece fica vermelha e muito inchada. Os sintomas da primeira manifestação da doença duram entre três e quatro dias e se a pessoa não procura ajuda, essa primeira manifestação passa por um tempo.
Entretanto, se não for feito um tratamento devido desde a primeira manifestação da gota, as crises continuam e podem atingir outras articulações como as do joelho, do cotovelo, mãos e ombros com as mesmas características: vermelhidão local e inchaço. É a artrite gotosa, que irá piorar se o doente não fizer dieta, repouso e usar medicamentos adequados.
Outra manifestação característica da gota é a formação de tofos sobre as articulações, que são como caroços cheios de substância branca dentro, que às vezes vazam durante as crises de gota sucessivas.
A chamada gota crônica é o estágio mais sério da doença, pois as complicações já se instalaram em outros órgãos do corpo, além das articulações. Neste caso, podem surgir por exemplo deformidades e defeitos irreversíveis nas articulações.
É importante também lembrar que a primeira manifestação da doença pode ser outra. Ou seja, a formação de cálculos renais, pedras nos rins que se formam uma após a outra, mesmo que sejam eliminadas.
As causas da crise e o tratamento
Geralmente uma lesão trivial ou um exercício além do habitual pode desencadear os episódios. A obesidade e dietas pobres em carboidratos também são fatores que podem precipitar uma crise.
O consumo excessivo de álcool é outro fator importante pois pode provocar acúmulo do ácido úrico nos rins e quando isso ocorre, a doença geralmente está em estágio mais grave. A cada inflamação, o rim cicatriza e se retrai. Essa retração deixa as artérias mais estreitas e com isso o sangue tem mais dificuldade de passar. Quando isso ocorre, o corpo, numa tentativa de resolver o estreitamento arterial, secreta uma substância chamada angiotensina que aumenta a pressão sanguínea.
Entretanto, essa hipertensão não acontece apenas no rim, mas em todo o organismo. Assim, a gota pode levar às doenças consequentes da hipertensão, como infarto do miocárdio ou derrames.
Contudo, entre os fatores que desencadeiam a crise, o mais importante é a alimentação. Uma dieta rica em substâncias denominadas purinas (que fazem parte das proteínas) resulta em um aumento da concentração de ácido úrico no sangue e, portanto, alimentos ricos nessas substâncias devem ser evitados. Entretanto, a restrição rígida de alimentos contendo purinas geralmente é recomendada no estágio agudo da doença, sendo que durante o estágio intermediário das crises, o tratamento dietético para pacientes que se mantém medicados visa uma dieta normal adequada. A seguir, veja quais são os alimentos com teor alto, médio e baixo em purinas.
Dieta para tratar da gota
Alimentos com alto teor de purinas/consumo deve ser evitado
– Carnes como vitela, bacon, cabrito, carneiro ou ovelha, embutidos
– Miúdos como fígado, coração, língua, rim e miolos
– Peixes e frutos do mar como sardinha, salmão, truta, bacalhau, arenque, anchova, ovas de peixe, mexilhão, marisco
– Aves como galeto, peru, pombo e ganso
– Bebidas alcoólicas de todos os tipos
– Caldo de carnes e molhos prontos
– Fermento de pães
Alimentos com médio teor de purinas/consumo moderado
– Carnes de vaca, frango, porco, coelho e presunto
– Peixes e frutos do mar não citados acima, bem como camarão, ostra, lagosta, caranguejo
– Leguminosas como feijão (exceto feijão adzuki), soja, grão de bico, ervilha e lentilha, aspargo, cogumelos, couve-flor e espinafre
– Cereais integrais como arroz integral, trigo em grão, centeio e aveia
– Oleaginosas como côco, nozes, amendoim, castanhas, pistache, avelã
Alimentos com baixo teor de purinas/consumo permitido
– Leite, chá, café, chocolate, queijos magros, ovos cozidos, manteiga e margarina
– Cereais e farináceos como pão, macarrão, sagu, fubá, mandioca, araruta, arroz branco e milho
– Vegetais como couve, repolho alface, acelga, agrião, radiche
– Doces e frutas de todos os tipos, incluindo todos os sucos
Dicas importantes
– A dieta para pessoa com gota deve ser moderada em proteínas, rica em carboidratos e relativamente pobre em gordura e deve incluir alimentos com baixos teores de purina.
– O consumo de gorduras deve ser reduzido pois o excesso diminui a excreção de ácido úrico.
– Evite o consumo de bebidas alcoólicas. O álcool precipita o ácido úrico, facilitando a formação de cristais.
– Líquidos como água e sucos devem ser ingeridos à vontade (mais de três litros por dia), o suficiente para que a urina esteja sempre clara. Isso facilita a excreção de ácido úrico e minimiza a possível formação de cálculos.
– É preciso lembrar que, fora das crises de dor, exercícios físicos são sempre necessários, mesmo que em pouca quantidade, pois não raro, há excesso de peso e vida sedentária entre as pessoas com gota. E a redução de peso é sempre útil e ajuda a reduzir a hipertrigliceridemia que existe em 75% dos pacientes com gota.
– Não fique longos períodos sem se alimentar. Quem fica muito tempo sem comer é candidato em potencial a ter uma taxa elevada de ácido úrico. Isso porque, em jejum, o corpo acaba degradando a proteína muscular como fonte de energia, gerando uréia como um dos seus subprodutos.
– Medicamentos, quando receitados, devem ser seguidos por todo o tempo recomendado, pois podem ter efeito incompleto se interrompidos.
– Para finalizar, é preciso ter em mente que a gota é uma doença crônica e grave, capaz de provocar muita dor e desconforto se não for tratada com seriedade pelo doente . Por isso, é necessário tratar a doença, muitas vezes para o resto da vida. Portanto, o seu médico poderá lhe orientar nos exames necessários para avaliar o quanto de ácido úrico o seu organismo está formando e excretando e se você está ou não comendo demais alimentos com altos níveis de purinas.
Mais informações: www.jocelemsalgado.com.br