por Luiz Alberto Py
Pretendo, neste e nos próximos artigos, abordar a psicanálise, sua história, sua evolução, seus desdobramentos e sua aplicação prática. Creio que existem informações sobre o assunto que podem ser úteis e importantes para o público em geral o qual eventualmente pode se beneficiar do conhecimento psicanalítico, não apenas como uma forma de tratamento, mas também como informação que se vincula com outras áreas do conhecimento. Todo meu enfoque do tema tem como objetivo estruturar informações dando prioridade a focar a utilidade da psicanálise como método de aprimoramento pessoal e quais os usos positivos que se pode fazer das teorias psicanalíticas.
A psicanálise se originou do trabalho de Sigmund Freud (1856-1939), médico nascido em Freiberg (hoje Pribor) na Morávia e criado em Viena. Freud trabalhou inicialmente como neurologista, interessou-se pelo estudo da histeria e se dedicou a criar uma forma de tratamento de distúrbios mentais à qual deu o nome de psicanálise. Com o aprofundamento de suas observações ao longo de seu trabalho terapêutico, Freud desenvolveu uma extensa investigação sobre o que ele chamou de parte inconsciente (ou subconsciente) do funcionamento mental humano.
Seu objetivo era aumentar o conhecimento sobre a mente e com isto melhorar sua capacidade de tratar dos problemas mentais. Assim, a psicanálise deixou de ser apenas um método de tratamento de problemas emocionais para se tornar também uma forma de estudo da mente.
Ao longo da primeira década do século passado, Freud reuniu alguns discípulos – médicos que se interessaram pelo trabalho dele. Estes foram contribuindo para a evolução do conhecimento psicanalítico, tanto no que diz respeito ao tratamento em si quanto na evolução dos conhecimentos sobre a mente.
Aqui surgiu um primeiro problema: devido à sua origem médica, a psicanálise sofreu uma desvantagem. A investigação desta vasta área da mente, o inconsciente, foi orientada pela observação de do que havia de doentio, sendo deixados de lado os processos saudáveis. E até hoje a atenção dos psicanalistas continua predominantemente voltada para o estudo dos processos mentais patológicos. Ilustrativa disto é o chiste que conta a queixa de um analisando: “Cheguei atrasado ao meu analista, ele disse que eu estava com resistência; cheguei antes da hora, ele interpretou como ansiedade. Hoje cheguei pontualmente ele me chamou de obsessivo.” Nenhuma prioridade costuma ser dada aos processos mentais sadios.
A medicina moderna, a partir da segunda metade do século 20, deixou de se limitar ao tratamento das doenças para também investir no aprimoramento do organismo. A ênfase numa alimentação saudável, acompanhada de cuidados básicos de higiene e atividades físicas, propõe a manutenção da saúde como forma de evitar as doenças, muitas das quais surgem como conseqüência da falta de cuidado com o corpo. Isto representa uma mudança ideológica que aproxima a medicina ocidental da oriental, pois esta última sempre enfatizou a preservação do equilíbrio e harmonia como atividade principal do médico.
Psicanálise deve estimular os processos sadios
O equivalente psicanalítico desta abordagem deve ser uma psicanálise voltada para o aprimoramento da saúde mental, visando estimular os processos sadios e criativos e conscientizá-los para o cliente. No caso da anedota acima, o psicanalista pode ter uma leitura mais favorável dos comportamentos de seu cliente e entender que chegando atrasado ele está mostrando descontração e ausência de ansiedade; ao chegar cedo, o cliente evidencia seu cuidado e precaução; e chegando pontualmente mostra-se capaz de precisão.
A partir da consciência que o cliente assume de suas capacidades, pode melhor usá-las para lidar com suas dificuldades emocionais. Encaminhar a psicanálise neste sentido significa voltar a atenção da parceria analista analisando para o futuro, rompendo longos e penosos processos de auto-investigação que só dão prioridade a focalizar o passado e valorizam males antigos.
Esta postura viabiliza um processo analítico mais ágil e dinâmico onde não se investiga apenas o “por que eu sou assim”, mas investe-se no “como eu vou conseguir ser melhor do que sou e superar meus defeitos e desvantagens”. E ainda, torna menos provável que o processo analítico gere ou aumente no analisando sentimentos de insegurança e inferioridade, além de diminuir o risco de estimular situações de dependência para com o analista.
Quanto ao debate sobre em que medida a psicanálise é ou não ciência, a melhor resposta é admiti-la como o estudo e investigação do funcionamento mental, portanto uma área de conhecimento e não uma ciência, já que o processo de ampliação do saber psicanalítico é eminentemente empírico. Pode-se portanto, dizer que a psicanálise, além de ser um tratamento, é uma investigação empírica sobre a mente humana.