por Roberto Goldkorn
Acabada a luta o juiz levanta o braço do vencedor. O imperador fez o fatídico gesto com o polegar para baixo indicando que o já derrotado deveria morrer. Os mais importantes sentam à direita do rei.
No galinheiro duas galinhas se estranham. Começam a se bicar até que um reconhece a derrota e estabelece um código (pesquisa científica) para não repetir a briga toda vez que se trombarem no galinheiro: ela irá abaixar a cabeça enquanto a vencedora irá erguer a cabeça.
E por fim – o crime dele era imperdoável: apunhalou o amigo pelas costas!
Esses são alguns exemplos da importância do simbolismo das posições na nossa vida. Ao longo da evolução, alguns códigos tiveram de ser estabelecidos imitando padrões encontrados na própria natureza (como no caso das galinhas).
As relações de posição são calcadas nas próprias relações que a natureza estabelece. Por exemplo apunhalar alguém pelas costas literalmente ou em sentido figurado é mais odioso que se a mesma “punhalada” fosse dada pela frente. E por que isso? Simples, as nossas costas são um “vazio sensorial”, o que acontece nas nossas costas não é perceptível, pois não temos órgãos dos sentidos ali localizados para nos alertar. Da mesma forma que dar às costas a alguém significa negar ou no mínimo ignorar esse alguém.
O conhecimento dessas “leis” de posicionamento pode nos ajudar a melhorar em diferentes ramos de nossa atuação. Por exemplo, em casa não é legal colocar o sofá de costas para a porta de entrada. A porta de entrada é por onde entram os amigos e o sofá é onde sentam os amigos, portanto um sofá de costas para a entrada bloqueia a sua vida social.
Um publicitário está criando um logotipo para uma linha de cosméticos onde uma silhueta de mulher olha para baixo. O olhar para o chão está associado à depressão, tristeza ou desencanto (ou tudo isso junto), portanto essa “assinatura gráfica” do produto não será inspiradora, não irá levantar o astral das consumidoras (como se espera de um cosmético).
Uma empresa de engenharia colocou no seu cartão de visitas uma cruz em destaque. Não admira que a vida dessa empresa e de seu proprietário era um eterno sacrifício (simbolismo não-religioso da cruz).
Outro exemplo clássico de posicionamento equivocado é a colocação de tapetes de porta com o logotipo da empresa. Costumo dizer que o logo de uma empresa é a sua bandeira. Você não colocaria a bandeira do seu país no chão para que se limpassem os pés nela, colocaria? Ao contrário a posicionaria em um lugar elevado para que nos obrigasse a elevar o nosso olhar para contemplá-la.
Isso se aplica em uma infinidade de situações, principalmente naquelas cujo simbolismo é evidente. Por que o comunismo soviético estava fadado ao insucesso? Escolheram um “logotipo” que colocava em oposição a Foice (o campesinato) e o Martelo (o operariado urbano), as duas forças motrizes da revolução bolchevique.
O conhecimento dessas relações de posição, pode inclusive ter uso terapêutico. Hoje sabemos que pessoas que andam mirando o chão, têm uma tendência (ou já estão) à depressão. Funciona como se o seu inconsciente estivesse antecipando uma posição mais confortável: o caixão sob a terra. Fazer essas pessoas erguerem o olhar pode ajudar de forma instantânea a sair desse estado mórbido, para pelo menos iniciar um trabalho de retorno à superfície.
Há relações de posicionamento que são óbvias, por exemplo, ninguém coloca o fogão no banheiro, nem toma sorvete pela orelha. Por isso é que podemos medir o grau de patologia psíquica observando o grau de desvio que um indivíduo comete ao posicionar os itens que o cercam. Esse grau de desvio vai de pessoas que acumulam lixo na sala de estar, até aquelas que usam criativamente a banheira como canteiro de plantas. O grau do desvio e principalmente o seu resultado prático é que separam o artista do esquizofrênico.
Por outro lado a incapacidade de mover as coisas, de experimentar novas relações de posição, pode também indicar algum tipo de transtorno de
ultraconservadorismo. Como sabemos a única coisa que não muda é a mudança.
Tudo isso se aprende apenas observando com mais atenção a natureza, o comportamentos dos seres vivos e a nós mesmos animais sociais que somos.