por Carla Regino
A intimidade assusta e por isso muitas pessoas se utilizam de subterfúgios no relacionamento para não precisar ter uma relação íntima com seu parceiro. Se relacionar implica em necessariamente ter sua vida emocional atrelada a um outro.
Como o psicólogo clínico Michael Vincent Miller relata em seus estudos, se a experiência emocional de um dos dois não foi positiva no passado, o casal terá dificuldades nesta área. Esses indivíduos geralmente cresceram em casas com pais ansiosos, controladores e punitivos e quando eram crianças não foram apoiados emocionalmente. Por isso não se sentem confortáveis em sua própria pele para se experimentar. Dessa forma acabam se tornando adultos com medo de perder o controle, quando estão perante sentimentos fortes.
Infelizmente, nossa sociedade tem produzido cada vez mais esse tipo de ser humano. Se por um lado eles têm essa dificuldade em sua vida pessoal, geralmente são pessoas independentes, muito bem decididas porque tiveram que aprender a se virarem sozinhos e a não confiar em ninguém. Esses homens e mulheres geralmente foram filhos perfeitos, sempre correspondendo às expectativas dos pais. São pessoas que conhecemos pelas suas personalidades fortes. Mas esse tipo de personalidade se transformou em rigidez, e eles tiveram que reduzir suas possibilidades de experimentar o amor, pois qualquer estímulo fora do padrão os faz sentir uma ansiedade avassaladora. Uma personalidade como essa limita as possibilidades de se sentir amor e prazer.
Imaginem esse indivíduo que quando criança se sentia constantemente invadido e bombardeado, e por isso foi obrigado a se fechar em si mesmo por auto-preservação. Ele ficará em constante alerta, em estado de emergência, aguardando a próxima invasão do outro. Como essa pessoa conseguirá se relacionar, se isso implica em abaixar a guarda e ter a capacidade de sentir raiva, felicidade, tesão, todas emoções fortes que nos tiram do nosso eixo? Mas esse tipo de personalidadedpersonalidade forte também sente necessidade de se atrelar em um relacionamento íntimo.
Para ilustrar como essas pessoas se relacionam, usarei um exemplo geométrico dado pelo psicólogo Michael Vincent Miller em seu livro 'Terrorismo Íntimo'. É como se uma coreografia inconsciente ocorresse. Imaginem um círculo com o seu diâmetro traçado, nos dois pontos onde o diâmetro intercepta o círculo colocaremos um parceiro de cada lado. Eles ficam em volta do círculo, um perseguindo e o outro fugindo, mas eles não conseguem se encontrar no diâmetro e diminuir o espaço que há entre eles. Se saírem do círculo caem no vazio do divórcio ou da vida sem sentido. Percebam, caros leitores, como este casal encontrou uma forma conveniente de se relacionar, descobriram uma dinâmica onde conseguem se relacionar sem precisar ter que lidar com a intimidade. Uma relação deste tipo é neurótica, pois o casal se mantém defendido sem precisar entrar em contato com as questões mais profundas do seu ser.
O ciúme, a depressão e a culpa mantêm os parceiros juntos, mas a uma distância segura um do outro e fazem com que eles acreditem que estão em uma relação verdadeiramente íntima. Estes sintomas neuróticos apesar de serem doloridos ajudam as pessoas a saberem onde estão pisando, pois é fato que a maioria dos seres humanos prefere o conhecido, por mais que não seja agradável, do que o desconhecido, porque este gera ansiedade.
A distância intransponível criada pelo casal, sugerida no exemplo do diâmetro, é um sintoma que ambos partilham, que cria uma sensação de amor, intimidade e segurança, mas na verdade esses sintomas são um subterfúgio para não terem que lidar com a intimidade. É certo que após a liberação da sexualidade ficamos muito mais expostos à força da alma do outro, e como nos enxergamos como deuses e queremos saber tudo e, ter certezas absolutas, muitas vezes não agüentamos a força que vem dessa forte ligação com o outro.
Ao se relacionar não se pode esquecer que o amor é perigoso, é preciso ter humildade ao lidar com este sentimento. A maioria das pessoas se relaciona como se estivesse em um duelo, mas o importante é permitir que o lúdico esteja sempre presente entre você e seu parceiro.