por Regina Wielenska
Sabemos que o desenho Frozen foi um baita sucesso, as crianças entoam sua trilha com notável entusiasmo. Vemos agora que a animação Divertida Mente está seguindo a mesma trilha, bilheterias cheias, filas enormes.
Psicologicamente, os dois trabalhos se conectam. No primeiro, a protagonista é protegida, posta em isolamento pelos pais por possuir um dom perigoso: quando a linda menina sente emoções fortes, congela tudo ao redor. Emoções tornam-se, assim, sinônimo de algo a ser evitado a todo preço.
Um exemplo disso: as irmãs foram impedidas de viverem juntas, mesmo existindo tanta afinidade entre elas. O amor fraterno foi truncado, a pequena não entendia a razão pela qual não podia mais encontrar sua irmã. Várias outras coisas ocorreram nesta mesma direção. A mensagem principal seria que toda vez que nos esquivamos de lidar com certas emoções ditas difíceis teremos, em algum momento, de arcar com consequências, algo bem pior do que encarar as emoções de frente.
Pesquisadores como Strosahl, Hayes e Wilson, os pais de uma terapia chamada Terapia de Aceitação e Compromisso enfatizaram que boa parte das manifestações comportamentais patológicas deriva-se de nossa fuga desesperada de emoções desconfortáveis. E o jeito, pra nós, seria desenvolvermos habilidades para compassivamente acolhermos nossas sensações e emoções.
Divertida Mente avança na mesma trilha: até um momento da vida predomina a alegria na vida da menina que protagoniza o desenho. Um pouquinho de raiva aqui, um nojinho acolá, e ela segue feliz. Sem maiores intercorrências. Mas nem tudo é perfeito para sempre. A vida, por definição, é impermanente: uma mudança acaba revirando pelo avesso o cotidiano da menina. Quase tudo muda, e não necessariamente pra melhor. O quadro piora quando na família se tenta ocultar a tristeza, para poupar a todos. Dá muito errado.
A tristeza é uma emoção legítima e é imperativo que haja espaço pra sua manifestação sempre que a situação assim exigir.
Todos nós, como a garota da animação, precisamos viver nossos lutos, olhar pra o que nos traz sofrimento e devagarinho processarmos a experiência que nos tirou do eixo. O filme nos ensina sobre isso, usando de humor, fazendo referência a achados da neurociência e usando muita arte digital.
Recomendo os desenhos, foquem o olhar de vocês sobre várias as emoções e as contingências, os contextos, que as produzem. Todas as emoções são fundamentais, até as mais incômodas. E fugir delas em nada nos ajuda.