por Flávio Gikovate
“Na teoria prega-se o discurso da generosidade, mas na prática cada um tem de cuidar do que é seu”
A dualidade entre praticar atos generosos e egoístas surge já na tenra idade.
Uma criança pouco tolerante a frustrações e contrariedades, tenderá para o egoísmo. Mas… se for mais permissiva e pouco agressiva, será reforçado estes dois comportamentos e assim tenderá mais para a generosidade.
Às vezes a opção se faz em virtude das identificações infantis. Se o menino tender para imitar a figura paterna – o que me geral deriva de sentimentos de culpa, derivados de ter sido o rival deste pelo amor da mãe -, sua “opção” se fará de acordo com o modo de ser do pai. Às vezes isso se dá pela questão de papéis no seio da família. Se o primeiro filho for capaz de chamar a atenção por ser egoísta, o segundo tenderá se destacar tratando de ser generoso.
Cabe registrar que em nosso meio cultural convivem os dois códigos de valor próprio das duas formas de exercícios da vaidade: o derivado do modo de ser das pessoas de sucesso social e material; e o derivado da radical renúncia desses valores, que são outra forma de sucesso.
Também é importante ressaltar que os padrões de valor ligados à generosidade são os que partem da ética “oficial”, ou seja, de acordo com o pensamento cristão, que é majoritário em nossa cultura. O discurso é a favor da generosidade, mas a prática solicita na direção de cuidar do que é seu.
A mesma confusão entre palavras e gestos é passada para as crianças e jovens. Eles devem ser bons e capazes de perdoar, mas se levarem uma surra na rua serão estimulados a voltar ao local e revidar com igual violência.
Eu já ouvi centenas de vezes frases do tipo: “Eu não sou vingativo, mas aquele fulano me paga!”.
As crianças aprendem que devem compartilhar suas coisas com as outras, mas não veem os adultos fazerem isso. Não é cristão ser competitivo, mas a ambição é estimulada e assim por diante… O padrão teórico é o da generosidade, mas a prática é a da selva, que é o caminho do sucesso social, profissional e econômico.
Pretendo continuar com o assunto na nossa próxima coluna. Até lá!