Por Samanta Obadia
Sempre me impressionou a frase: “O homem é o lobo do próprio homem”, de Thomas Hobbes. Ao mesmo tempo em que o romantismo de Jean-Jacques Rousseau me soava ingênuo demais, ao afirmar que todo homem nasce bom. Há tantas contradições e complexidades na natureza e na condição humana, que transcendem as teorias simplistas.
Em tempos de crise e pânico, muitos libertam seus monstros e expressam seus desejos mais violentos contra sua própria espécie. Inúmeras vezes, esse ódio vem justificado por dores e horrores vividos ou temidos; consequência previsível, posto que somos vulneráveis ao fazermos parte do grupo a que pertencemos.
Todavia, o que me assusta ainda mais, não é o monstro que se apresenta diante do sofrimento, mas sim a banalização do mal racionalizada e normatizada como padrão a ser alcançado.
Precisamos relembrar Hannah Arendt, quando esta diz: Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos. (…) Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime.
Pense nisso!
O sono da razão produz monstros (imagem acima) é uma gravura criada pelo pintor e gravador espanhol Francisco Goya. Concebida entre 1797 e 1799, é a 43ª das 80 gravuras que compõem o conjunto de sátiras ‘Los Caprichos’.