por Patricia Gebrim
Não existe nada mais precioso, artigo mais raro ou luxuoso, do que o nosso tempo de vida. Sempre achei muito difícil compreender as pessoas que se dão ao luxo de desperdiçar algo tão valioso.
Não consigo compreender o que buscam essas pessoas que passam horas na frente de um televisor assistindo um programa absolutamente inútil, ou que frequentam eventos nos quais ninguém interage de verdade com ninguém, ou ainda pessoas que gastam seu precioso tempo com situações e pessoas que não tem nada a acrescentar.
Essa “cultura do vazio”, essa “idolatria do fútil” me é difícil de ser compreendida.
A meu ver, se as pessoas se tornassem conscientes dos inevitáveis movimentos dos ponteiros do relógio, se de verdade se dessem conta de quão especial, único e impermanente é cada momento, saberiam escolher melhor.
Saberiam escolher as experiências que as tornariam pessoas melhores. Saberiam escolher as trocas que as fariam mais sábias ou amorosas. Saberiam escolher hábitos mais saudáveis. Seriam mais responsáveis e compreenderiam que suas vidas estão em suas mãos.
É solitário, eu sei.
Não é fácil encontrar pessoas conscientes nesse mar de inconsciência. Tudo ao nosso redor tenta nos anestesiar o tempo todo. O mundo ao nosso redor, como nos contos de fadas, nos inebria com um sedutor canto de sereia que nos quer meio mortos, transformados em zumbis. Somos considerados as engrenagens que devem manter a máquina funcionando. O mundo espera que cumpramos nosso papel sem questionar, sem pensar. Quanto mais inebriados pela ilusão, melhor, mais facilmente manipulados seremos.
Mas, aqui e ali, algumas pessoas despertam. Do meio do seu vazio existencial brota um facho luminoso que por um instante ilumina essa maldita máquina engolidora de gente, e de repente, ao se deparar com essa visão aterradora, o ser humano desperta do seu sono de morte. É frágil esse momento no qual a alma acorda, faminta que está após tanto tempo soterrada sob atitudes absolutamente medíocres. E, se nesse breve momento de lucidez, a alma não se puder alimentar, corre o risco de perder-se novamente de si mesma, de ser tragada por essa correnteza por onde segue passivamente a maioria das pessoas.
As pessoas que despertam desse sono de morte costumam se sentir solitárias. Precisam encontrar outros que, como elas, enxerguem além. Precisam trocar com pessoas que, como elas, já não encontram sentido na falta de sentido da vida. Precisam de uma mão estendida e de ouvidos que a compreendam, para que elas mesmas entendam que é a sanidade, e não a loucura, que as toma nos braços. Precisam se alimentar de silêncio, paz e interações verdadeiras.
Se você acabou de despertar, se está assustado, olhando ao redor sem compreender esse mundo que de repente lhe parece absurdamente desprovido de sentido ou profundidade, se este artigo fizer algum sentido para você, entenda-o como uma mão estendida e saiba que você não está sozinho.
Não se perca desse momento, dessa sensação de que existe algo mais importante e sagrado acontecendo, o tempo todo, ao seu redor. Não se perca desse sopro sutil capaz de elevar seu ser. Abra os olhos, deixe-se levar, amplie sua visão.
Lá, nesse novo espaço alcançado, eu lhe garanto, existem outros com os quais você poderá compartilhar.