por Aurea Afonso Caetano
"Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente. É aquele que melhor se adapta."
Charles Darwin
Começo este texto citando essa ideia já antiga, mas absolutamente revolucionária. Darwin, em sua genialidade expressa aqui uma das mais fundamentais características de todo e qualquer ser vivo. A capacidade humana de adaptação e com ela todas as possibilidades de sobrevivência no mundo que conhecemos e habitamos.
Adaptação: acomodação e também o processo pelo qual os indivíduos (ou as espécies) passam a possuir caracteres adequados para viver em determinado ambiente. Vemos aqui que esta definição inclui dois movimentos distintos: um que seria mais passivo – acomodação – e outro mais ativo – processo a ser feito, ou caminho a ser trilhado para conseguir sobreviver.
Embora a capacidade de adaptação seja fundamental, atribuímos a ela muitas vezes um valor negativo. Explico: uma pessoa adaptada seria alguém que funciona de acordo com seu ambiente, em consonância com as normas e leis da sociedade que habita. Conseguiria com isso uma sobrevivência, mas ao mesmo tempo não provocaria mudanças significativas, ou seja, seria um sujeito "de acordo" um ser da maioria um não indivíduo.
Em oposição a essa ideia tendemos a atribuir um valor positivo e chamar de legal e bacana o sujeito que não se conforma, o que está o tempo todo levantando questionamentos, discutindo. O revolucionário, o agitador, embora dê trabalho, é admirado e seguido; acentua e mostra de forma muitas vezes perturbadora os funcionamentos obsoletos e danosos da sociedade em que vive.
Mas, poderemos nós escolher entre um ou outro funcionamento? Dá para dizer que um é melhor que o outro? Não estaremos o tempo todo caminhando entre esses dois polos ou melhor, não deveríamos contemplar as duas possibilidades em nossa vida cotidiana?
Na verdade, a adaptação em sua essência diz respeito às duas polaridades: acomodação e desconforto. O adaptado em demasia pode se tornar um sujeito rígido e fixado em um tipo de funcionamento; mas sem acomodação não há como consolidar ganhos e conquistas. Já o inquieto ou contestador em exagero teria sua sobrevivência dificultada por não se adaptar de forma fácil ao seu meio. Mas, por outro lado, essa mesma pessoa com seus questionamentos poderia provocar uma mudança em seu meio ambiente o que poderia seria algo muito positivo para o mundo que habita.
Polarizações ou fixações em determinados padrões são sempre nocivos. O segredo é poder transitar entre eles – entre a acomodação e a inquietação – desse trânsito ou da movimentação constelada entre esses polos nasce o sujeito adaptado, aquele que, segundo Darwin será o sobrevivente.