por Jocelem Salgado
É muito comum os pais vigiarem os hábitos alimentares dos filhos quando são pequenos. Nos primeiros meses, a alimentação se limita à amamentação. Depois, a mãe cuida de completar o aleitamento com uma variedade de alimentos que ela acha importante. Esses cuidados prosseguem até que a criança passa a receber uma merenda na escola, mas tendem a desaparecer quando o menino ou a menina “ganha” a liberdade da adolescência.
Eles têm horários rígidos para voltar para casa, especialmente se forem meninas, mas o que comem lá fora já não tem tanta importância. Todos sabem que os adolescentes estão em fase de crescimento e têm um apetite enorme, e que não vão ficar pensando em calorias.
O que os pais não sabem – ou sabem mas não dão importância – é que ao comer qualquer coisa seus filhos poderão estar adquirindo hábitos alimentares que vão prejudicá-los para o resto da vida. É muito comum os adolescentes contarem suas moedas e festejarem quando elas são suficientes para um “dogão” (um “dog” ou cachorro quente) e um guaraná. Um “dogão” é o exemplo mais apropriado para se ilustrar a alimentação que satisfaz e ao mesmo tempo é perigosa e enganadora.
Cheio de molhos, maioneses, fritas e purês, o “dogão” tem as calorias de um churrasco completo, mas não oferece os alimentos reguladores, nem os construtores necessários para o organismo. O “dogão”, dos carrinhos da esquina e mesmo das lanchonetes das escolas, dá a sensação de “barriga cheia” ao mesmo tempo que proporciona um excesso de “calorias vazias”. Aliás, tenho defendido nos meus artigos e nas minhas palestras a necessidade de se alterar e controlar os salgadinhos oferecidos nas lanchonetes das escolas. Venho defendendo também uma mudança nos cardápios da merenda escolar, uma oportunidade muito especial de se oferecer uma boa alimentação à criança e ao adolescente e de ensinar a eles bons hábitos alimentares.
Pais obesos, filhos obesos?
Vamos voltar à questão da obesidade na adolescência, vista atualmente no seu conjunto como um dos maiores problemas de saúde pública. O fato que se coloca é que grande parte da população adulta obesa começa a ter problemas na sua infância ou adolescência.
O estilo de vida atual, a correria, o estresse, a alimentação excessivamente rica em gorduras e pobre em fibras, a televisão e os vídeogames em casa, são alguns dos fatores que estão transformando a obesidade infantil numa verdadeira epidemia.
Um dos fatores que a criança sofre de forma involuntária, e que tem grande importância, é a presença da obesidade nos pais. Estudos clássicos em famílias de obesos revelam que, quando ambos os pais forem obesos, dois terços dos filhos serão obesos. Se somente um dos pais estiver acima do peso, o risco de obesidade nas suas crianças cai para 50%. Se ambos os pais forem pessoas magras, as suas crianças terão um risco de menos de 10% para obesidade.
A obesidade infantil aumenta o risco da obesidade no adulto. Crianças menores de 3 anos, filhos de pais não obesos, apresentam baixo risco de se tornarem obesas quando adultas. Mas, entre crianças mais velhas, a obesidade apresenta forte correlação com a obesidade no adulto, independentemente de os pais serem obesos ou não. No entanto, quando os pais são obesos, a chance da criança, tanto obesa como não obesa com idade abaixo de 10 anos, de se tornar um adulto obeso, é duas vezes maior.
Obesidade cresce entre os adolescentes
No Brasil, os últimos dados nacionais mostravam que a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes era de 7,8% e 7,6%, respectivamente. Dados mais atuais demonstram o crescente aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade entre escolares (6 a 18 anos) em algumas cidades brasileiras, conforme dados abaixo:
– Belo Horizonte (1998) – 8,5% de adolescentes estavam obesos e com sobrepeso
– Curitiba (1996) – 15,6% de adolescentes estavam obesos e com sobrepeso
– Rio de Janeiro (1999) – 12,2% dos escolares estavam obesos e com sobrepeso
– Florianópolis (1999) – 22,3% dos escolares estavam obesos e com sobrepeso
– Recife (2001) – 34,7% dos escolares estavam obesos e com sobrepeso
Trabalhos realizados com escolares de São Paulo mostraram que mais de 30% deles apresentavam sobrepeso ou obesidade. Os números são muito divergentes porque não há uma uniformidade nos métodos de pesquisa, mas o fato é que o aumento de peso vem sendo notado em todas as capitais, exatamente como acontece nos centros urbanos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O grande vilão não está apenas nas dietas desordenadas, com excesso de calorias, mas especialmente na combinação entre esses hábitos alimentares e a falta de atividades físicas. Cada vez mais há especialistas e pesquisas mostrando que a prática de alguma atividade é fundamental, tanto para a manutenção de um peso adequado, quanto para a saúde de um modo geral.
Segundo a Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde a prevalência da obesidade em nosso meio, entre adolescentes, ainda não apresenta um consenso nacional, porém, dados isolados indicam estar em torno de 20%, com diferença entre os sexos. Apesar da porcentagem estar aumentando em relação a outros grupos etários, somente agora se iniciam os debates sobre a sua nutrição e seus hábitos alimentares.
Entre os problemas detectados na alimentação dos adolescentes, os mais importantes são os seguintes:
– O fato de saltarem uma ou outra refeição, principalmente o café da manhã
– A alta ingestão de refrigerantes (em média, o adolescente bebe um litro por dia)
– Lanches com alta densidade calórica (normalmente salgadinhos fritos, chips, bolachas recheadas, chocolate e alto consumo de balas)
– O baixo consumo de frutas e hortaliças
– A substituição das principais refeições por lanches
– A compulsão alimentar, que se caracteriza pela vontade de comer sem controle
É evidente que não apenas a alimentação tem sido destacada como a grande vilã da obesidade, mas também a inatividade física. Nossas crianças estão cada vez mais sedentárias, ficando grande parte do tempo em frente à TV ou computador, e o que é pior, consumindo alimentos calóricos.
A adolescência é um período crítico para iniciar ou agravar a obesidade preexistente, devido ao aumento fisiológico do tecido adiposo que ocorre principalmente no sexo feminino, o maior consumo de “fast food” com alto teor calórico e também por instabilidades emocionais frequentes neste período.
A imagem corporal é o cartão de visita do indivíduo, principalmente na adolescência, quando a aparência física determina a aceitação no grupo ou não. Isto ocorre principalmente nesta fase em que a necessidade de ser bem-visto e aceito é vital para o desenvolvimento da personalidade.
12 dicas para prevenir a obesidade na adolescência
1ª) O comportamento das crianças não deve ser premiado ou castigado através da alimentação
2ª) Sirva de exemplo e coloque as crianças para se alimentarem junto com os adultos, para que ela possa apreciar todos os alimentos servidos, principalmente verduras, legumes e frutas
3ª) Evite os vícios alimentares, não faça dos “fast foods” uma rotina na alimentação de seu filho
4ª) Incentive a atividade física, através de brincadeiras como jogar bola, brincar de esconde-esconde, andar de bicicleta, entre outras
5ª) Dê bons exemplos pelo seu próprio estilo de vida, evitando permanecer horas diante da TV ou do computador
6ª) Quando necessária a reeducação alimentar de um dos membros, toda a família deverá participar
7ª) Lembre-se que os adultos são os principais responsáveis pela formação dos hábitos alimentares das crianças
8ª) Fique atento ao consumo de alimentos supérfluos, propagados pela mídia nos meios de comunicação e pela influência dos colegas
9ª) As refeições devem ser feitas em horários regulares e em locais apropriados. Evitar o consumo de alimentos em frente à TV
10ª) Atualmente, recomenda-se a ingestão de 5 porções de frutas, legumes e verduras na alimentação diária. Esta é uma boa forma para se iniciar a mudança do comportamento alimentar da criança e do adolescente
11ª) Procure, sempre que necessário, a ajuda de um profissional da área de alimentação e nutrição, que poderá orientar quanto às necessidades específicas e individuais.
12ª) Não estimule as “dobrinhas” do seu bebê, achando que quanto mais gordinho mais saudável
Lembre-se sempre que comer é uma manifestação da necessidade e do desejo do nosso organismo, mas que reproduz hábitos determinados por nossa cultura. Se estivéssemos na Idade Média, quando todos nós faríamos atividades físicas diárias, nosso cardápio seria diferente.
Hoje, nós e nossos adolescentes, podemos passar o dia sem nenhum gasto de energia, entrando e descendo dos nossos carros, ou esperando o ônibus no ponto. Nas nossas esquinas ou nas nossas escolas, vamos encontrar carrinhos ou lanchonetes oferecendo sanduíches com excesso de calorias. E restaurantes em todos os lugares com os pratos mais saborosos. O que por um lado pode parecer tentador, por outro pode ser uma armadilha, colocando em risco nosso organismo. Não há fórmula ideal para reduzir esse risco, mas diminuir o consumo de calorias e praticar exercícios é a combinação indicada por todos os especialistas. Se você e seus adolescentes adotarem essas práticas com prazer, será melhor ainda.
Mais informações: www.jocelemsalgado.com.br