por Antônio Carlos Amador
Uma visão tradicional da adolescência, que ainda prevalece em muitos livros, filmes e no pensamento de muitas pessoas é aquela de um período tempestuoso e tumultuado. No entanto, os estudos mais recentes indicam que, embora esse seja o caso para alguns jovens, não é verdade para a maioria.
Isto não significa, contudo, que esses adolescentes não tenham problemas ou conflitos. Quer dizer apenas, que tais "sintomas" tendem a ser suaves e transitórios.
Os conflitos com os pais são frequentes e previsíveis, especialmente durante os primeiros anos da adolescência. Nessa fase, o horizonte mental dos adolescentes se expande e eles começam a perceber que os valores e a forma de vida de sua família não são as únicas possibilidades. Eles são capazes de perceber não só que há lugar para valores, crenças e formas diferentes de fazer as coisas, mas também que a maneira de ser de outros pais pode até ser melhor que a dos seus. Por outro lado, a perspectiva de independência com suas responsabilidades pode ser assustadora; e então, a segurança da dependência infantil, a certeza de que a mãe e o pai de alguma maneira "põem as coisas nos lugares certos" também têm sua atração.
Esses conflitos entre necessidades de independência e dependência podem levar a oscilações súbitas e imprevisíveis nas atitudes e nos comportamentos. O adolescente pode ser surpreendentemente maduro, independente e responsável num momento, e infantil e pouco digno de confiança no outro. Exatamente quando a mãe e o pai pensam que seu filho, ou filha, alcançou maior liberdade, pode acontecer alguma coisa que os leve a duvidar que algum dia ele, ou ela, chegou realmente a crescer. Esquecer um compromisso importante, mudar os planos de uma hora para outra, comprometer-se a fazer algumas tarefas necessárias ou importantes e depois esquecê-las, resistir indignado à insistência dos pais quanto às tarefas de casa e depois não se preparar para uma prova escolar – tudo isso são causas comuns do quase desespero que vez ou outra atormenta os pais de adolescentes.
Mas, se desejamos que os adolescentes aprendam a ter responsabilidade e a se comportar como adultos, é necessário que eles tenham algum nível de controle sobre o que fazem e como fazem. Essa tarefa envolve a participação ativa dos pais, para os quais são desejáveis duas qualidades, necessárias para um trabalho bem-sucedido com adolescentes: a congruência e a capacidade de demonstrar uma aceitação incondicional.
Quando os pais não são congruentes, os jovens percebem isso rapidamente. Eles podem identificar com facilidade aqueles comportamentos que não são consistentes e genuínos. Os adolescentes são particularmente atentos ao comportamento de outras pessoas, principalmente dos adultos, porque eles estão buscando modelos para a construção de sua identidade.
Normalmente as condutas dos adolescentes não correspondem aos padrões dos adultos. Não é de surpreender que eles se sintam frequentemente julgados, criticados pelos adultos e algumas vezes pelos próprios pares. Eles percebem muito rapidamente a desaprovação. E então se retraem, tendendo a não conversar livremente com os pais, se acreditarem que serão feitos julgamentos negativos sobre eles. Além disso, críticas negativas não contribuem para uma abordagem construtiva das demandas que se quer trabalhar. É preciso que estejamos aptos a aceitar as ideias e os conceitos dos adolescentes para conseguirmos atingir seu íntimo.
A aceitação incondicional envolve uma aceitação positiva, sem julgamentos do comportamento do jovem. Isso pode vir a ser difícil e, às vezes, quase impossível, mas sem essa qualidade os pais certamente terão dificuldades em criar um relacionamento com o jovem. Para fazer isso, nós os adultos, precisamos também ser capazes de lidar ativamente com nossos próprios sentimentos. Se falharmos nisso, o adolescente não se sentirá à vontade para falar de suas crenças e experiências. É preciso que sejamos autênticos e que nos libertemos dos papéis que representamos, pois quanto mais representamos papéis, mais nos sentimos distantes.
Se nos tornarmos seres humanos que se reconhecem e aceitam mutuamente, que realmente se comunicam, chegaremos mais perto uns dos outros.