por Ceres Araujo
Durante os primeiros anos de vida, até os 5, 6 anos, a criança vive na órbita das pessoas que tomam conta dela ou seja a mãe e o pai.
Ela precisa ser amada, cuidada e protegida, pois sozinha não tem condições para saber o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. A relação que se estabelece é uma relação de maternagem e o filho adquire a noção de pertencer aos pais, principalmente à mãe. Os pais são idealizados, sentidos pelo filho como pessoas muito fortes, que sabem tudo, que são, portanto, capazes de lhe garantir toda a segurança. A sensação de pertencer gera na criança a noção de enraizamento na família.
Crescendo, paulatinamente o filho começa a se afastar dessa relação de maternagem, buscando deixar de ser o “bebê da mamãe”. Em geral, isso começa a ocorrer a partir dos 6 anos de vida. É uma época de confrontos, principalmente com a mãe, fase na qual a criança aceita melhor os comandos do pai. Ela pode inclusive desejar se aliar ao pai contra a mãe. Parece desejar ser o “filho do pai”. A mãe precisa, com sabedoria, perceber nessa situação, um exercício de autonomia da criança e não deve querer submetê-la sumariamente à sua vontade.
Adolescência: afastamento do mundo dos pais
Mais tarde, já na adolescência, em um desenvolvimento normal, irá acontecer um novo processo de busca de autonomia, que pode ser caracterizado como o afastamento do mundo dos pais. É evidentemente, um afastamento que acontece internamente. O filho tendo como modelos principais de identidade sua mãe e seu pai, começará a tentar descobrir sua própria forma de pensar, sentir e agir. Como nem sempre essa forma própria coincide com as formas dos pais, conflitos emergem, manifestados de maneira explícita ou implícita.
Por um lado, nem sempre os pais são hábeis no trato com seus adolescentes. Muitas vezes, não conseguem perceber que suas criancinhas cresceram. Com frequência, experimentam muito medo do que o mundo fora de casa pode causar de mau a seus filhos. Tendem a lidar inadequadamente com regras, limites e proibições. Podem perder a possibilidade do diálogo com seus adolescentes.
Por outro lado, os adolescentes necessitam se afastar do controle dos pais, principalmente se esse é sentido como excessivo. Precisam de um pouco de privacidade nas suas vidas e não mais se sentem confortáveis em compartilhar com os pais, o que lhe acontece, todos seus desejos e expectativas. Nessa fase da vida, os melhores amigos é que são os confidentes.
Susceptíveis demais ao que nomeiam como invasão por parte dos seus pais, os adolescentes, com frequência, se tornam “carcereiros deles mesmos” e se fecham em seus quartos. Só que, vale observar, nos dias de hoje, fecham-se nos quartos, mas abrem uma janela enorme com o mundo, via internet. As redes sociais espalham as novidades dos adolescentes e os pais são os últimos a saber dos acontecimentos.
O afastamento do mundo dos pais ocorre paralelo ao processo de desidealização dos pais. Os pais idealizados da infância deixam de ser “os sabe tudo” para serem percebidos como pessoas sujeitas a falhas. Para desenvolver a própria autonomia, adquirir competências, afirmar-se nos ambientes, o filho precisa descobrir que os pais, na verdade, não são tão poderosos como ele os imaginava na infância, que têm coisas que eles não sabem, que são apenas humanos e como humanos podem também errar.
Simultaneamente, tende a ocorrer a desidealização das figuras dos professores. O adolescente passa a acreditar que ele aprende mais sozinho, que com seus mestres. O jovem se apropria do conhecimento com total autonomia. Antigamente se debruçava horas diante dos livros e, nos tempos atuais, fica diante da internet. Essa apropriação do saber pode ser para o bem ou para o mal.
Nos dias de hoje, com frequência, escutam-se queixas como, “Meu filho é jovem e não tem vida social real. Não quer sair do quarto e nem da internet”; “ Ele não fala mais com ninguém da família, passa a noite no computador, de manhã vai para a escola e a tarde, dorme”. Tais reclamações são preocupantes e devem ser examinadas caso a caso.
Existem jovens que usam bastante os meios atuais disponíveis para a comunicação e são hábeis no usufruto desses meios. Outros jovens estão usando excessivamente tais meios e passam a se sentir mais confortáveis no mundo virtual que no mundo real. E, ainda, existem jovens viciados em internet, em uma adição compatível à adição aos entorpecentes.
Para evitar os exageros no uso da internet e a patologia, cumpre aos pais a manutenção do diálogo com seus adolescentes, onde deve existir uma confiança irrestrita e incondicional de ambos os lados. Essa é a única garantia para um relativo conforto dos pais e a única garantia para a segurança dos filhos crescidos.
Portanto, a compreensão dos pais em relação à adolescência de seus filhos é a melhor forma de reduzir a distância, o afastamento que se estabelece naturalmente entre dois mundos: o do jovem que está procurando de todas as formas se afirmar para a vida adulta e o mundo já estabilizado do adulto.