por Lilian Graziano
Para os adolescentes é sempre muito difícil tecer perspectivas que não sejam exageradamente carregadas de ansiedade pelos acontecimentos futuros.
Longe de mim tentar definir precisamente identidade aqui, porque se trata de um conceito que envolve psicologia, sociologia e antropologia para explicá-lo (e ainda assim sob visões um tanto divergentes) – mas é a partir de uma pretensa identidade que nessa fase as perspectivas se traçam, traduzidas na escolha de amigos, namorado e carreira.
E a adolescência segue permeada pela complexidade de um desenvolvimento ainda incompleto, do ponto de vista moral, psíquico e físico – e sob a responsabilidade de escolhas que não correspondem ao nível de autoconhecimento do sujeito adolescente. Mesmo porque ainda há muito por vir de si… dessa tal IDENTIDADE.
Difícil? Sim. Trata-se de uma fase que, apresentado esse contexto, muito cuidado é necessário para não ferir o self desse jovem (grosso modo, o lugar psíquico da identidade). Tudo para que esse não carregue, como hábito ou modelo, as consequências de um trauma juvenil, que impossibilite ao jovem saber quem ele é, de fato. Esses traumas podem ser rótulos inadequados que o adolescente generalize e assuma como uma característica sua, gerando falsas crenças sobre si mesmo. São abusos físicos e psicológicos, bullying e perdas diversas capazes de interferir na formação desse sujeito.
Mas paremos aqui de falar dos aspectos disfuncionais que acompanham a adolescência. O que nos prende neste artigo é muito mais o que pode ser feito para minimizar a ansiedade mencionada do que discorrer sobre o que a causa.
Recorro, então, a duas características positivas inerentes à adolescência, como a mantida curiosidade infantil e a coragem em lançar-se pela vida – que, embora seja também um risco pode, assim como a curiosidade preservada, ser aproveitada para a formação saudável do sujeito adolescente, para que ele se reconheça nesse momento e durante seu amadurecimento.
Os hábitos adolescentes considerados de bobos a nocivos, como construir scrap books enfeitados, diários e mesmo a manutenção de página pessoal no Facebook, ou de um blog, podem ser lugar para que esse mesmo jovem visualize suas características positivas mais notáveis, blindando seu self contra “ataques” recorrentes das intempéries do convívio social nessa idade. Atentemos aí, somente para a questão da privacidade necessária contra a pedofilia, o cyberbullying, sobre os quais leituras especializadas podem orientar mais do que este artigo.
Adolescentes podem ser cruéis em caçoar dos demais, dizer impropérios que lhes vêm à cabeça, ofendendo e magoando adultos, jovens e crianças, mas, por outro lado, podem também ser mais abertos para a vida do que nós adultos; são ainda moldáveis e flexíveis (como se fossem feitos de uma substância que parece endurecer demais na vida adulta). Então estão mais aptos a conhecer suas forças pessoais, seus talentos, e internalizá-los, seja por prática repetida dos mesmos ou pela tática de visualizá-los em registros decorados por papelaria, feitos em cadernos ou virtualmente.
É claro também que o adolescente tem tempo. Tempo de pensar em quem ele é, do que gosta e outras coisas nas quais adultos ocupados em acumular dinheiro sequer sonhariam.
Contudo, ainda que possam ter desistido de si mesmos, ao abrirem mão de sua capacidade autorreflexiva, os adultos devem cumprir o fundamental papel de estimular esse adolescente que tenta se compreender por meio de diários, cyberperfis e tudo o mais de que dispõe. Nesse sentido, é muito importante que pais, amigos e outros familiares auxiliem-no nesse processo, estimulando os registros positivos, elogiando as atitudes positivas e características positivas registradas. É dessa forma que se fortalecem não só as emoções positivas e a identidade do jovem quanto as suas características mais formidáveis, como também seus laços sociais.
Tais laços e as emoções positivas, segundo estudos da Psicologia Positiva, estão diretamente ligados a uma vida mais feliz, a níveis maiores de sucesso (percebido em conformidade com expectativas subjetivas) e também a melhores estratégias de coping (enfrentamento) e resiliência diante de ameaças e oportunidades na vida.
Quando empreenderam a sua versão do inventário psicométrico via (ranking das forças pessoais do indivíduo – veja aqui), Marting Seligman, criador da Psicologia Positiva, e colegas envolvidos nesse movimento, criaram logo a versão infanto-juvenil do questionário, sabendo já do impacto desse tipo de “educação emocional” ou “blindagem” na formação de seres saudáveis, mais adaptados para a vida. E se o problema era a ansiedade diante das perspectivas, eis que há uma solução não só eficaz como muito mais abrangente para tornar mais palatável essa que é, talvez, a fase mais difícil da vida, em que tudo é um drama e dificilmente se vê luz no fim do túnel. Enfim, haverá perspectivas. E com menos reboliço!