por Tatiana Ades
Vivemos numa época onde os amores são rápidos e os casamentos terminam da noite para o dia. Isso traz um medo natural de ficarmos sozinhos e desamparados.
Por isso, muitas vezes paradoxalmente nos agarramos ao nosso amor como se ele fosse “eterno” e único; somos capazes de qualquer atitude para não ficarmos sozinhos.
Assim muitas vezes confundimos amor com costume.
E o que são costumes?
Representam toda uma rotina de vida com o outro: passeios, o dia a dia de acordar e dormir juntos, saber que ele ou ela chegará às 19 horas, brigar, fazer amor, etc.
A rotina dos costumes se torna tão familiar, que passamos a precisar dela, mesmo quando estamos insatisfeitos. Percebo em diversos pacientes a confusão entre estar ainda amando e estar “amando ainda uma rotina de vida”.
Após terminarem uma relação, essas pessoas reclamam de não terem mais o dia a dia tão conhecido; sentem-se amarguradas com o convívio da solidão, com a necessidade de recomeçar. Afinal, tinham uma vida que parecia tão estruturada, mas que desabou.
Mas como saber se estamos sentindo falta de alguém por que ainda amamos ou por que estamos acostumados a essa pessoa? Essa resposta vem do seu conhecimento interior.
Basta ser sincero consigo mesmo e pensar, se o contexto com essa outra pessoa mudasse, se ainda assim existiria o sentimento de amor.
Se vocês moravam na cidade e tinham uma rotina de correria… mas agora tudo mudou e você passou a viver com ele na praia num contexto mais tranquilo…
Você ama o que perdeu ou aquele que perdeu?
Esta profunda reflexão nos leva a descobrir verdades sobre nós que muitas vezes estão escondidas.
Algumas pessoas se surpreendem e confidenciam que após o fim de um relacionamento a vida ficou melhor. A liberdade abriu espaço para o novo: fazer cursos, sair com amigos, se arrumar mais…
Nesse caso, o comodismo estava privando essa pessoa de ser ela mesma. Muitas vezes entramos num estilo de vida e acreditamos que precisamos estar presos a ele pelo resto de nossas vidas.
Acredito que o amor seja sim muitas vezes confundido com costume e que deveríamos fazer esse trabalho interno várias vezes, detectando o que está nos agradando ou não em nossa rotina para podermos ser mais felizes.
A liberdade pode ser boa, assim como a vida a dois, mas precisamos estar sempre atentos em relação a nossas emoções e sentimentos.
“De manhã um "bom dia", na cama a conversa informal, o beijo, depois o café, o cigarro, o jornal.
Os costumes me falam de coisas e fatos antigos.
Não me esqueço das tardes alegres com nossos amigos.
Um final de programa, fim de madrugada, o aconchego na cama, a luz apagada.
Essas coisas só mesmo com o tempo se pode esquecer.”
(Roberto Carlos)