por Danilo Baltieri
Depoimento de uma leitora:
"Por favor, estou desesperada. Descobri que minha filha está fazendo uso frequente de ecstasy associado ao álcool, desde que se mudou para Campinas, onde iniciou os estudos em uma faculdade. Ela mora em uma república. O que devo fazer? Onde posso encontrar ajuda psiquiátrica para ela e parar com esse mal?"
Resposta: Ecstasy (MDMA – 3,4-Metileno-dioxi-metanfetamina) é uma droga ilícita, com bastantes evidências de provocar toxicidade cerebral, e que foi considerada nos Estados Unidos da América uma substância de controle altamente prioritário em 1986. Apesar disso, seu uso, principalmente entre adolescentes e adultos jovens, tem aumentado em vários locais do mundo.
Evidências de que o uso do ecstasy provoca diminuição na produção de certos neurotransmissores, como é o caso da serotonina, devido a um processo de degeneração neuronal específica, abundam na literatura.
Consequentemente, algumas alterações neurocognitivas têm sido observadas entre usuários dessa substância, tais como déficits na memória visual e verbal, bem como na atenção e concentração.
É verdade que logo após o consumo do ecstasy, o usuário pode sentir:
a) euforia;
b) sensação de aumento da energia;
c) excitação sexual;
d) comportamento gregário.
No entanto, hipertensão arterial, taquicardia, visão borrada, náuseas, sudorese excessiva, sensação de frio, tremores musculares também podem ocorrer.
Comumente, após a tomada de um tablete de MDMA, os efeitos duram até 6 horas. Entretanto, alguns usuários reportam uma duração maior, de até uma semana.
Também comumente, na semana seguinte ao uso dessa substância, muitos usuários podem manifestar os seguintes sintomas:
a) agressividade verbal;
b) irritabilidade;
c) sintomas depressivos;
d) prejuízos do sono;
e) redução do apetite;
f) prejuízos na concentração e atenção;
g) sintomas ansiosos;
h) flashbacks
Mesmo assim, o usuário poderá querer experimentar nova dose em uma próxima oportunidade, dados os efeitos ditos "recompensadores" provocados pelo consumo imediato.
Os riscos do uso de MDMA são grandes. Com o aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, problemas cardiovasculares podem surgir. Efeitos neurológicos do uso do MDMA incluem hemorragia subaracnoidea, hemorragia intracraniana ou infarto cerebral.
Um dos efeitos de alta toxicidade induzida pelo uso imediato do MDMA é a hipertermia (hiperpirexia, ou seja, grave aumento da temperatura corporal), quadro clínico em que o usuário pode atingir uma temperatura corporal superior a 43°C.
Seguramente, sua filha está assumindo comportamentos arriscados e necessita de orientação e apoio. É natural que diante de uma nova vida, experimentando uma liberdade diferente, os jovens queiram aumentar suas vivências. Mas, infelizmente, nem sempre as escolhas são bem feitas.
A sua preocupação é bem-vinda. Você deve conversar com a sua filha, estreitar sua parceria com ela, permitir que ela fale, e ter a certeza de que você também estará sendo ouvida por ela.
Aqui no Vya Estelar tenho fornecido algumas propostas sobre como abordar filhos usuários de substâncias. Peço que faça uma busca aqui no site e veja textos anteriores.
Antes de concluir esta resposta, é importante pontuar que existem várias substâncias vendidas nas ruas e clubes sob o nome de ecstasy. No entanto, apesar de muitas vezes a substância MDMA realmente existir, coexistem outras adulterando a composição e, consequentemente, provocando ainda mais repercussões negativas. Uma droga conhecida como "Molly" tem sido disseminada nos Estados Unidos da América e Europa. É vendida como se fosse um ecstasy concentrado, o conhecido "ecstasy do bom". Na verdade, segundo alguns registros oficiais, além de MDMA, o Molly pode conter os chamados "sais de banho", ou catinonas. As catinonas são altamente excitatórias e potencializam os efeitos deletérios do MDMA.
Não perca tempo e oriente sua filha.
Boa sorte!.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.