Por Ana Beatriz Silva
Ainda hoje, muitas empresas acreditam que manter o funcionário ansioso e estressado torna-o mais produtivo. A curto prazo, isso pode ser aparentemente verdadeiro, pois as pessoas correm contra o tempo e vivem em função daquela tarefa, em detrimento de quaisquer outros aspectos de sua vida. Estimular a competição entre funcionários tem o mesmo efeito, mas a longo prazo estas políticas podem se voltar contra a produtividade das empresas.
Trabalhadores submetidos a ambientes estressantes e chefias desagradáveis tendem, com o passar do tempo, a associar trabalho com desprazer e sofrimento e culpam a empresa pelo prejuízo em suas vidas pessoais, perdendo assim o senso de pertencimento e 'time' que as empresas tanto cobram, mas não estimulam.
Por outro lado, quem não gosta de ir a um determinado local, em que irá encontrar um ambiente mais leve, em que você poderá rir e destacar o lado cômico de situações que seriam apenas trágicas e estressantes? E por que o trabalho não pode ser este local?
Um ambiente de trabalho em que a pessoa pode permitir-se ser bem-humorada na dose certa – sem ser taxada de displicente – é fundamental para o aumento da produtividade e satisfação no trabalho. Atitudes simples, como deixar revistas de humor e em quadrinhos na área do cafezinho da empresa, ajudam os funcionários a confraternizarem e arejarem a mente por alguns instantes.
A empresa americana Southwest Airlines, não pára de crescer, é conhecida por adotar políticas humanísticas no trato com seus funcionários. A empresa parte da premissa simples de que com funcionários felizes seus clientes estarão satisfeitos. Nessa empresa, o potencial de bom humor do empregado é avaliado desde a fase de recrutamento e seleção, em que se pede que o candidato conte algum problema profissional, que ele soube contornar com bom humor.
Ambiente de trabalho em que falta humor e bons relacionamentos aumentam em muito a probabilidade de os funcionários desenvolverem doenças causadas por estresse, indo de uma simples gripe à depressão e ansiedade aguda. O estresse que empresas equivocadamente consideram benéfico, será multiplicador dos casos de absenteísmo mais tarde.
Muitas pessoas deixam empregos em busca de outras colocações, procurando por maior qualidade de vida. Os prejuízos causados às empresas por elevada rotatividade de pessoal são bem conhecidos. Portanto, acumulam-se prejuízos de ordem financeira e produtiva.
O bom humor estimula a criatividade, a solidariedade e diminui a ansiedade. Através dele, funcionários podem vislumbrar saídas para questões complicadas – pois tiram a 'lente vermelha' da qual enxergam o assunto – e podem ser mais eficientes na tarefa de conquistar e manter o cliente. Claro que bom senso é fundamental e não se trata de fazer piada de tudo ou não levar nada a sério. Na verdade, bom humor no trabalho deve ajudar a não deixar-se dominar por raiva, ressentimento e temor, sentimentos que afloram em empresas dominada pela 'política do estresse'.
Se as pessoas precisam passar a maior parte de seus dias em seu ambiente de trabalho, convivendo com colegas, é melhor que este ambiente seja fraterno, estimulante, agradável e – por que não? – divertido.
Fonte: Ana Beatriz Silva é psiquiatra