por Marisa Micheloti
Nos últimos tempos nós psicólogos temos tido uma grande demanda de pacientes com queixas relacionadas às relações conjugais. São homens que se questionam por que não conseguem arrumar parceiras; são mulheres afirmando que os homens não querem nada com nada; são pessoas com receio de namorar pessoas descasadas… E assim as queixas vão aumentando em relação ao outro, principalmente com um grande receio: o de perder a tão conquistada liberdade.
Essas consequências ainda são frutos de toda a nova estruturação social de gêneros (masculino e feminino). A nossa individualidade como seres humanos e nossa identidade de gênero desenvolvem-se juntas. O ser homem e o ser mulher na sociedade contemporânea tem sido um constante processo de aprimoramento. As mulheres estão machucadas pelos longos anos de clausura que viveram no personagem mulher dona de casa; e os homens perdidos por não saberem como se manifestar perante às mulheres que aparentemente são auto-suficientes para a vida como um todo.
Amor e liberdade
Bom, se falarmos que o relacionamento está diretamente proposto a uma perda de liberdade, ou melhor, de readaptação ao viver solitário, podemos olhar por uma outra vertente e pensar que amar também traz uma sensação de liberdade enorme. É a sensação de se sentir com poder, de experimentar novas roupas, de viver uma relação sexual constante, de ter um humor divertido, de poder se sentir mais segura (o) ao ter com quem compartilhar as dificuldades.
O amor traz uma sensação de liberdade muito grande, de poder sentir aquilo que dificilmente poderíamos sentir sozinhos. Mas muitas vezes dá a falsa sensação das mulheres estarem retrocedendo em suas conquistas. Conquistas que foram maravilhosamente adquiridas e que provavelmente serão perpetuadas.
Estas conquistas femininas também trouxeram a liberdade para o divórcio. Mas quando uma relação conjugal é desfeita, continuamos carregando para os novos relacionamentos questões mal resolvidas caso o período de cicatrização não tenha sido curado.
A ajuda de um novo companheiro para uma mulher, por exemplo, pode ser um princípio de um 'reacreditar' fundamental, mas os fantasmas da relação anterior precisam parar de assombrar. Para isso é necessário um período de solidão, de resgate da dignidade do ser humano para a partir de um novo encontro com sua identidade de gênero buscar novas alternativas.
A bagagem do descasado
A autora Mônica McGoldrick cita que no primeiro casamento a bagagem que trazemos é de nossa família de origem, comentando dos sentimentos mal resolvidos que temos com nossos pais e irmãos, o que podem influenciar diretamente sobre um casamento. A autora em um segundo momento comenta que num recasamento há pelo menos três conjuntos de bagagem emocional:
1º) A família de origem
2º) O primeiro casamento
3º) O processo de separação, divórcio e o período entre os casamentos
Portanto, a bagagem desse novo relacionamento está mais pesada e o outro pode não suportá-la.
É aconselhável que cada um dos cônjuges consiga trabalhar para resolver suas próprias questões emocionais sem sobrecarregar o novo parceiro. Sendo assim, a possibilidade de existir uma relação com méritos é um ato criativo maduro desejável de ser alcançado.
Os seres humanos têm necessidades de uma criatividade constante em suas vidas e o casamento não fica fora disso. As barreiras que foram colocadas como proteção fruto de emoções sensíveis e desagradáveis vividas, que funcionam como total armadura contra a intimidade, podem ser removidas com a chegada de um novo amor. A necessidade fundamental é de que as pessoas precisam estar abertas para arriscar um novo romance. Se não há risco, não há sentido o amor.