Por Larissa Fernandes
“Amor é quando ele segura a minha mão pouco antes da decolagem do avião”, respondeu uma das participantes da pesquisa de Thiago de Almeida sobre o conceito de amor.
O estudo do psicólogo revelou que a idade, o nível de escolaridade e o gênero são fatores que influenciam a forma como o amor é entendido.
Para descobrir as características comumente associadas ao amor, Almeida realizou palestras, em São Paulo capital e em São Carlos, nas quais encontrou voluntários para a pesquisa. A coleta foi realizada com 600 sujeitos no total: 390 mulheres, 209 homens e uma pessoa que não identificou o gênero, com a média de 24 anos de idade. Eles tiveram que escrever o que acreditavam ser o amor em 90 segundos – tempo indicado para que seja obtido um número de respostas suficiente.
Os perfis dos sujeitos foram separados em sete grupos, de acordo com o local da coleta – além das palestras, o pesquisador recolheu dados em escolas e universidades públicas e privadas. Já as respostas foram distribuídas em 13 categorias criadas por cinco avaliadores: o próprio autor, o professor José Fernando Bitencourt, orientador da tese, um matemático, uma bibliotecária e um psicólogo.
O resultado apontou uma mudança no entendimento do conceito com o passar da idade. “Com o passar do tempo, o amor fica menos similar às questões românticas, familiares e amizades. As pessoas ficam mais pragmáticas e sempre se referindo ao amor de uma forma positiva. A maior parte dos participantes representaram o amor como algo que faz o ser humano feliz”, explica o pesquisador.
Homens e mulheres veem o amor de forma diferente
Outro achado foi a diferença sobre a forma como o amor é visto por homens e mulheres, o que pode ser um dos fatores para as discordâncias presentes em relacionamentos amorosos heterossexuais. Mais do que os homens, as mulheres associam o amor à amizade, família e animais como uma fonte de emoções, atitudes e comportamentos positivos. Além disso, quanto maior o nível de escolaridade dos participantes, mais ocorreu a associação com aspectos positivos. Isso foi constatado devido ao uso de termos como empatia, cumplicidade e dedicação.
Quanto às categorias de respostas, Almeida afirma que uma exclui a outra. Por exemplo, a categoria “amor como algo ligado a componentes sexuais” não se confunde com “o amor voltado para entidades divinas e/ou sobrenaturais”, em que os sujeitos apontaram Deus, versículos da Bíblia e a própria Igreja como definição de amor. Além dessas, também foi criada a categoria “o amor como uma relação entre pessoas específicas, não necessariamente romântica”, na qual as pessoas nomearam o amor por meio de um pronome pessoal, apelido, abreviação ou sigla. As outras dez definições são: algo essencial; indefinível; uma relação romântica entre duas pessoas; voltado para pessoas da família; amigos; animais irracionais; seres inanimados; dirigido a si mesmo; fonte de emoções positivas e negativas.
“Este estudo é a maior e a mais completa revisão científica sobre o amor que existe atualmente”, afirma o pesquisador. O interesse de Almeida em abordar o tema surgiu pelo fato da psicologia, surpreendentemente, abordar pouco o amor como objeto de estudo. “Entendia-se que o amor era algo relacionado com o místico, poético ou filosófico. Então, era um terreno sobre o qual a psicologia não se debruçava como objeto científico”, explica. O cenário começou a mudar a partir dos anos de 1970, quando o assunto passou a ser estudado por essa ciência.
A tese de doutorado O conceito de amor: um estudo exploratório com uma amostra brasileira foi apresentada em 2017, no Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Fonte: Agência USP