por Thaís Petroff
Crescemos ouvindo histórias de contos de fadas nas quais geralmente há um príncipe e uma princesa (ou personagens semelhantes a esses), os quais passam por situações difíceis e lutam com vilões para no final casarem-se e viverem felizes para sempre.
Os contos nos mostram a relação do casal enquanto há algo que os mantêm separados. Mas… e quando eles finalmente ficam juntos? Se pudéssemos saber da história dos cônjuges após o "fim" dos livros, como ela seria?
Inúmeros pacientes em momentos do seu processo terapêutico queixam-se de dificuldades em seus relacionamentos amorosos, bem como recebo e-mails relatando a mesma situação e conheço também pessoas do meu convívio social no mesmo contexto. Diante disso, já me fiz muitas vezes a mesma pergunta:
– O que é um bom relacionamento amoroso?
Acompanhando a história percebo que mais ou menos até a década de 70, havia muito menos divórcios do que há atualmente.
Isso demonstra que os casais eram mais felizes? Que eles se amavam mais?
Talvez tenhamos que ampliar nosso olhar para responder essas perguntas.
Antigamente valorizava-se mais a estabilidade, a segurança e a dedicação. Atualmente, os valores humanos estão mais voltados para sucesso pessoal e profissional, acúmulo de capital e rapidez nas coisas. Não é à toa que nos tornamos mais competitivos e individualistas. Estamos muito preocupados com a busca pela felicidade e retirando de nosso caminho qualquer situação que não contribua prontamente com esse objetivo.
Desse modo, vemos que há muita rotatividade nos empregos e também nos relacionamentos. Nos questionamos se aquilo nos deixa alegres e, caso não o faça, procuramos rapidamente alguma outra coisa.
O "ficar" é um fenômeno relativamente recente e um exemplo disso. Através dele, temos a chance de experimentar estar com uma ou mais pessoas em um grau grande de intimidade (física pelo menos) em um curto espaço de tempo, podendo a qualquer momento desvencilhar-se dessa relação. Percebe-se assim que temos muito mais oportunidades de vivenciar diferentes experiências mas, isso não parece nos tornar mais felizes. O que está acontecendo então?
Percebo que há uma grande valorização em relação ao bem-estar pessoal e a urgência de que as coisas ocorram rapidamente. A princípio, isso não é necessariamente ruim. No entanto, o que vejo é que acabamos tendo muito menos tolerância à frustração do que as gerações anteriores. Isso faz com que desenvolvamos uma dinâmica de que precisamos ser atendidos e, caso isso não ocorra, descartamos aquilo que nos frustra e buscamos rapidamente alguma outra coisa para ocupar esse espaço.
Como ficam então os relacionamentos amorosos diante disso, uma vez que são duas pessoas envolvidas e cada uma interessada em seu próprio bem-estar?
Não me recordo de nenhum relacionamento em que não haja conflitos, discussões, discordâncias, brigas, etc…
Desse modo, podemos concluir que os relacionamentos amorosos não são situações saudáveis?
As relações amorosas seriam um empecilho para o desenvolvimento pessoal?
Penso que talvez justamente essa percepção que cause tantas perturbações nos relacionamentos. Quando vemos o outro como um trampolim para a nossa felicidade ou como um obstáculo a ela, podemos ter a certeza de que haverá problemas. Ninguém foi feito para atender a demanda do outro, bem como nós também não nos encaixamos perfeitamente nos desejos do que o outro idealiza.
Se a ideia que norteia a busca por uma relação amorosa for a de encontrar alguém que se adeque exatamente aos critérios estabelecidos, fatalmente essa busca falhará, pois príncipes e princesas encantados, que proporcionem finais felizes, só existem mesmo nos contos de fadas.
Somos todos humanos com predisposição a errarmos, além de termos históricos de vida com experiências, educação, famílias, amigos etc… muito diferentes uns dos outros.
Dessa maneira após a paixão, todos seremos percebidos com nossas falhas e diferenças e, se a única força que mantinha o casal junto era a paixão, o relacionamento findará. Por outro lado, se houver a intenção da construção de algo mais sólido, o intuito de lidar com as dificuldades que aparecerem, a vontade de insistir frente aos possíveis problemas, o desejo de fazer as coisas darem certo, aí sim estaremos falando de amor e da possibilidade de uma relação duradoura. Para isso, paciência, tolerância, flexibilidade, dedicação, compartilhamento, abertura e confiança são só alguns dos pontos essenciais que devem estar presentes diariamente em um relacionamento amoroso.
Uma postura egoísta ou individualista não combina com uma relação amorosa. Não é o amor que mantém as atitudes em um relacionamento, mas sim as atitudes que mantêm o amor.