por Jocelem Salgado
Inúmeras evidências sugerem que as pequenas frutas que apresentam polpas macias, tais como: amora, framboesa, mirtilo, morango, etc. podem ter efeitos benéficos contra vários tipos de cânceres humanos.
O potencial anticancerígeno dessas frutas tem sido atribuído pelo menos em parte, à presença de inúmeros fitoquímicos bioativos, ou seja, compostos produzidos pela planta, incluindo entre eles polifenois (flavonoides, proantocianidinas, elagitaninos, gallotannins, ácidos fenólicos), stilbenoids, lignanas e triterpenoides.
Estudos mostram que o efeito anticancerígenos desses compostos presentes nessas frutas, são medidos por suas capacidades de neutralizar, reduzir e também reparar os danos resultantes da formação de excesso de radicais livres (estresse oxidativo) responsável pelo aparecimento de várias doenças como: diabetes, hipertensão, inflamação, Alzheimer, Parkinson, câncer entre outras.
Embora uma variedade de frutos vermelhos seja consumida em todas as regiões do mundo, na América do Norte, os comumente consumidos são: amoras pretas, framboesas, mirtilos, cranberries, framboesa vermelha e morangos.
Essas pequenas frutas de polpa macia e colorida são consumidas em nossa dieta não só na forma fresca e congelada, mas também como produtos processados, incluindo frutas enlatadas, iogurtes, bebidas, compotas e geleias.
O uso também de extratos secos dessas frutas como ingredientes funcionais, utilizados sozinhos ou combinados com outras frutas coloridas, vegetais e extratos de ervas na forma de suplementos alimentares tem sido uma tendência mundial.
Outro "nicho" bastante explorado atualmente são as frutas silvestres como exemplo: mirtilos, groselha, amora preta, lingonberry e a amora silvestre, que são popularmente consumidas em outras regiões do mundo.
Além disso, há uma tendência crescente no consumo de produtos e de frutas tipo exóticas incluindo a romã (Punica granatum), goji bagas (barbarum Lycium; também conhecido como o wolfberry), mangostin, o açaí brasileiro (Euterpe oleraceae) e o fruto do maqui chileno (Aristotelia chilensis).
Estudos recentes têm comprovado o efeito potencial anticâncer desses componentes isolados purificados encontrados nessas pequenas frutas. Esses incluem fitoquímicos, compostos fenólicos como as antocianinas (pigmentos que dão as cores atraentes para as frutas e vegetais coloridos), a quercetina (flavonol presente também em cascas de cebolas, maçã, etc.), proantocianidinas (polímeros flavanol em chá verde, sementes e casca de uva, blueberries, cranberries, chocolate escuro, etc.), os taninos hidrolisáveis (particularmente elagitaninos, encontrados em morangos, framboesas pretas, framboesas vermelhas, amoras, uvas, algumas nozes, bebidas envelhecidas em carvalho, etc.), e outras moléculas de flavonoides relacionados.
Um maior consumo de frutas e vegetais tem sido associado com a diminuição do risco de uma série de cânceres de origem epitelial, incluindo o câncer de esôfago.
Um estudo recente mostrou que a administração da dieta equilibrada e enriquecida com pó de amora preta liofilizada inibiu significativamente câncer de boca, esôfago, cólon e carcinogênese em ratos.
Um estudo piloto com duração de seis meses foi desenvolvido em pacientes com Esôfago de Barrett (EB ou síndrome de Barrett) uma doença na qual há uma mudança anormal (metaplasia) nas células da porção inferior do esôfago causada provavelmente por uma exposição prolongada ao conteúdo ácido proveniente do estômago (esofagite de refluxo) é encontrado em cerca de 10% dos pacientes que procuram tratamento médico para a doença do refluxo gastroesofágico.
O esôfago de Barrett possui relevância clínica por ser considerado uma condição pré-maligna, ou seja, é uma lesão associada a um risco aumentado de câncer esofágico. Nesse estudo durante os seis meses foram administrados diariamente 32 gramas e 45 gramas de pó seco de amora preta para as mulheres e homens respectivamente, participantes da pesquisa. Os resultados comprovaram que o consumo diário de pó de amora preta promoveu reduções na excreção urinária de dois marcadores do estresse oxidativo, 8-epi-prostaglandina F2R e, em menor medida mais variável, 8-hidroxi-2'- desoxiguanosina, indicando efeito benéfico da ingestão da amora preta no caso de pacientes com esôfago de Barret.
Evidências cientificas recentes sugerem que essas pequenas frutas podem ter um imenso potencial para prevenção e terapia do câncer, mas ainda existem lacunas importantes no nosso conhecimento. Embora a compreensão de alguns dos possíveis mecanismos da ação dos fitoquímicos na prevenção do câncer tenha aumentado na última década, os esforços de investigação continuam centrados na elucidação dos mecanismos de ação a nível celular e molecular.
Mais estudos devem ser concebidos para investigar o potencial preventivo dessas frutas na prevenção de câncer tanto em modelos animais como em seres humanos. Além disso, torna se necessário estudar a biodisponibilidade desses compostos presentes na fruta. Verificar se o potencial quimiopreventivo (capacidade de prevenir câncer) é aumentado por interações complexas entre as substâncias presente dentro da matriz alimentar natural desses frutos, ou se é melhor em combinação com substâncias fitoquímicas de outros alimentos, isso deve ser investigado.
Além disso, os estudos de sondagem potencial "erva-droga" interações dessas pequenas frutas e medicamentos devem ser cuidadosamente investigada, planejada e controlada em estudos clínicos com humanos. Finalmente, a pesquisa interdisciplinar é altamente recomendável de modo que os estudos básicos e pré-clínicos possam levar a investigação translacional (do laboratório à beira do leito).
Concluindo, é fortemente recomendado que essa área de investigação para as pequenas frutas de polpa macia e colorida continue a ser explorada, pois isso será base para o estabelecimento de estratégias para o desenvolvimento seguro e eficaz de dietas que serão mais um aliado para a prevenção e tratamento de diversos tipos de cânceres.