por Anette Lewin
"Sou casada há 16 anos e tenho uma filha de 13 anos. Meu marido quase sempre quis ser um sargento dentro de casa e hoje eu, com 47 anos, (já naquela de crise da menopausa e nossa filha em plena adolescência), não estou suportando mais. Ele não aceita diálogo, só sabe falar…falar… Acho que é o fim desse casamento ou vou empurrando com a barriga e nem sei por quê…"
Resposta: Ao descrever o que não vai bem no seu casamento você menciona a falta de diálogo com seu marido como a causa de sua sensação de sufoco. Descreve-o como um sargento dentro de casa. Mas, se como você diz, ele sempre (ou quase sempre) quis mandar na relação, será que conseguiu? O fato de ele falar, falar, falar, por si só, não caracteriza uma pessoa autoritária. Quem é autoritário dá a ordem e fim. Se ele fala, mas não ouve o que você tem a dizer, talvez você não tenha conseguido desenvolver argumentos ou atitudes suficientemente convincentes para serem escutados e, juntamente com os dele, formarem um diálogo. Ou então você não tenha parado para ouvir, de fato, o que ele tem a dizer. Tanto com palavras quanto com atitudes.
Elaborar e discutir lista de frustrações é chato, mas muitas vezes funciona
O primeiro passo então, seria deixar claro o que você está querendo da relação e o que ele está querendo. Se for difícil, uma vez que, aparentemente, vocês não ouvem um ao outro, faça uma lista com os principais pontos de frustração e peça para ele fazer o mesmo. Em seguida, levantem os pontos que mantêm vocês unidos ainda. E depois levantem as expectativas de cada um caso se mantenham juntos. Mesmo que esse processo possa parecer artificial e chato, muitas vezes funciona.
O objetivo é vocês voltarem a se ouvir, pois no momento vocês estão bem distanciados um do outro, cada um com suas crenças e convicções pessoais.
A partir daí, cabe a vocês decidirem se ainda existem objetivos em comum. Se a companhia do outro ainda é desejada; se voltar para casa e ter aquela pessoa por lá ainda produz alguma sensação positiva, mesmo não causando aquele friozinho na barriga do início do relacionamento.
Por outro lado, você, que se diz, apática e sufocada, entenda que sua liberdade e leveza não estão associadas necessariamente a um bom ou a um mau casamento. Você pode ser livre dentro de um casamento ou prisioneira fora dele. Depende de como administra suas vontades, seus comportamentos e suas decisões. Depende de como administra seu próprio eu. Assim, independentemente de separar-se ou não, tente diversificar suas atividades e invista em você mesma.
Sua filha já cresceu e não precisa mais de tantos cuidados. É hora de retomar a ideia daquele curso que você sempre quis fazer, aquele passeio para o qual você não tinha tempo enquanto se dedicava à maternidade, ou mesmo um trabalho, caso tenha parado de trabalhar. São atividades que ajudarão você a se sentir livre, orgulhosa, e com novidades a serem compartilhadas com sua família. E talvez, dentro desse novo contexto, como uma pessoa mais realizada, preenchida e animada, você possa dar ao casamento a real dimensão que ele deve ter, sem colocá-lo num pedestal que a obrigue a encará-lo de baixo para cima sentindo-se pequena e oprimida.
Lembre-se que a única mudança efetiva que podemos realizar é nas nossas atitudes, nossos comportamentos, nossas ações. Separar-se está sim a seu alcance. Mas largar um casamento esvaziada, sufocada e sem ter a sensação de que tem seu valor como pessoa pode manter você no mesmo sufoco em que está agora. Assim, trabalhe-se primeiro para tomar sua resolução de forma consciente, coerente e consistente.