por Ricardo Arida
Vários estudos têm mostrado propriedades aditivas (dependência) entre pessoas que praticam exercício físico intensamente*.
Esses estudos têm mostrado que o exercício pode se tornar uma atividade crônica, isto é, a necessidade de continuar a prática de exercícios físicos persiste, e que essa “dependência” está associada a fatores quantitativos como a frequência, duração e intensidade do exercício.
Estudos prévios mostram que entre as pessoas que apresentam história de excesso consumo de bebida alcoólica**, os corredores relatam ingerir menos bebidas alcoólicas que não corredores. Similarmente, tem sido também observado que o exercício intenso induz a uma diminuição do desejo de álcool em alcoólicos***. Esses efeitos sugerem que a corrida (exercício) e álcool devem ativar as mesmas vias neurais.
Várias pesquisas com animais examinaram possíveis efeitos do exercício no consumo voluntário de álcool. Ratos que tinham acesso ao álcool mostram uma diminuição de ingestão de álcool e aumento de ingestão de água quando tinham livre acesso a atividade de corrida voluntária em roda (os animais entram e saem de uma roda acoplada à caixa onde eles ficam alocados e correm voluntariamente)****.
Esses estudos mostram que a possibilidade da substituição do álcool pelo exercício poderia ser uma estratégia interessante para prevenir ou tratar a dependência de álcool.
Nesse sentido, um trabalho recente***** demonstrou que ratos que apresentavam uma alta preferência ao álcool, quando colocados a livre acesso à atividade voluntária em roda por vários dias, alteravam o seu padrão de consumo de álcool.
Embora uma explicação para a associação entre ingestão voluntária de álcool e corrida voluntária em roda poderiam ser as mesmas vias neurais de recompensa (mesmas áreas cerebrais envolvidas para ambos os comportamentos), os autores dos estudos sugerem algumas razões alternativas para esta diminuição do consumo de álcool. Por exemplo, o álcool é diurético e a corrida em roda pode resultar em adicional perda de água. O consumo de álcool pode ter diminuído para manter o equilíbrio de água do organismo.
Estudos futuros podem confirmar essas possibilidades. Essas pesquisas podem fornecer insights de grande valor nas possíveis alternativas de prevenção e tratamento do abuso e dependência do álcool em humanos.
* Chapman CL, De Castro JM. Running addiction: measurement and associated psychological characteristics. J. Sports Med. Phys. Fitness 30 (1990) 283–290.
** Gutgesell ME, Timmerman M, Keller A. Reported alcohol use and behavior in long-distance runners. Med. Sci. Sports Exerc. 28 (1996) 1063–1070.
*** Ussher M, Sampuran AK, Doshi R, West R, Drummond DC. Acute effect of a brief bout of exercise on alcohol urges. Addiction 99 (2004) 1542–1547.
**** McMillan DE, McClure GY, Hardwick WC. Effects of access to a running wheel on food, water and ethanol intake in rats bred to accept ethanol. Drug Alcohol Depend. 40 (1995) 1–7.
***** Ehringer MA, Hoft NR, Zunhammer M. Reduced alcohol consumption in mice with access to a running wheel. Alcohol 43 (2009) 443-52.