Por Samanta Obadia
Diariamente, levo Princesa (I) e Duquesa (II) para passear. Por recomendação da veterinária que cuida delas, percebi o quanto é importante que peguem sol e entrem em contato com outros cães e pessoas.
Meu amor aos animais foi plantado desde cedo por meus avós, que sempre partilharam suas vidas com cães, gatos, aves e outros bichos, nominando-os e se referindo a eles como membros da família. Talvez por isso, a primeira palavra que eu pronunciei tenha sido ‘Kit’, o nome da boxer de meus avós que comigo dividia o sofá. Lembro-me de como minha avó contava sobre o seu carinho e proteção comigo, ainda miúda menina.
Em minhas férias, a grande diversão nas viagens a São Lourenço (Minas Gerais) para a casa de minha tia-avó Maria, era brincar com os filhotinhos vira-latas que se escondiam embaixo da casa da vizinha, pois a mãe deles, ao parir, os tivera e guardara ali. Eu e meu irmão Ignácio, ainda de pijamas, buscávamos cada qual, um filhotinho e levávamos para nossas camas a fim de acolhê-los. Sujos de terra e cheios de pulgas eram nossos bebês. Minha avó Anna para nos proteger das impurezas, nos ensinava a cuidar deles, com banho, alimento e água limpa. Mas sempre nos permitia o contato com os pequeninos.
Aprendi a amar os cães e quando passeio com minhas meninas(III), percebo o quanto esses breves minutos diários me reconectam com a humanidade de maneira preciosa, pois as pessoas desconhecidas se aproximam, fazem comentários sobre elas e assim trocamos cumprimentos. Uma simples rotina que recebi de meus avós e de seus cães enobrece hoje meu contato com os seres humanos. De alguma forma, o escritor Louis Sabin traduziu bem essa fortuna quando disse: “Não importa que sejam poucas as suas posses e seu dinheiro. Ter um cão torna-o rico”.
Essa ponte canina, me aproxima de crianças, jovens e idosos numa conexão livre de medo e desconfiança, segura. E esta sensação me acalenta num cotidiano, tantas vezes massacrado pela mídia urbana que nos assola de ideias sobre uma sociedade violenta, corrupta e egoísta.
Que eu possa contar com o olfato desses anjos de quatro patas para ter uma boa intuição ao escolher as pessoas que cruzam o meu caminho. Afinal, meu coração é machadiano(IV) e não me canso de repetir: “Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos” .
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(I) Lhasa apso, de 5 anos.
(II) Spitz alemão de 2 anos.
(III) Princesa e Duquesa.
(IV) Citação de Machado de Assis.