por Joel Rennó Jr.
Hoje, continuaremos a falar sobre os aspectos diferenciais da ansiedade feminina – clique aqui e leia texto anterior.
Gostaria de destacar algumas das principais diferenças entre os homens e as mulheres nos aspectos pertinentes aos transtornos de ansiedade e também algumas peculiaridades dos quadros ansiosos femininos:
Mulheres têm maior risco aos transtornos ansiosos. Embora ainda tais dados sejam controversos quanto aos seus fatores causais, cabe aqui ressaltar que as variações hormonais em conjunto com variáveis psicológicas e sociais têm um impacto relevante nesse maior risco encontrado.
Há maior associação com depressão e transtornos alimentares no sexo feminino.
Os transtornos do pânico com agorafobia são mais comuns. Agorafobia significa o comportamento de evitação provocado por lugares ou situações onde o escape seja difícil ou embaraçoso devido a uma crise de pânico (geralmente locais cheios de pessoas). Cerca de 1/3 a 1/2 dos pacientes com pânico têm agorafobia.
O curso da ansiedade feminina costuma ser recorrente e crônico.
Os sintomas têm mais possibilidade de estarem associados a mudanças hormonais, como já foi descrito anteriormente.
Mulheres com sintomas vasomotores (fogachos) e ansiosos têm maiores chances de terem depressão.
Mulheres têm maior prevalência de depressão somática (National Comorbidity Survey – EUA), sendo a depressão somática muito associada com ansiedade. Somática é referente a sintomas físicos que frequentemente acompanham vários transtornos mentais.
Pacientes com muitas queixas somáticas devem ser investigadas para TAG (Transtorno da Ansiedade Generalizada). Queixas somáticas mais comuns: dor torácica, dispnéia (falta de ar), desconforto abdominal, taquicardia e tontura. Geralmente, pacientes apresentando dores torácicas não específicas têm maior tensão e ansiedade. A ansiedade torna as mulheres mais poliqueixosas. Durante as consultas médicas, as mulheres relatam um número maior de sintomas quando comparadas aos homens.
Características somáticas dos transtornos ansiosos
Pânico: instabilidade da respiração, hiperatividade autonômica, fraqueza e cefaléias.
TAG: tensão muscular e irritabilidade
Transtorno do estresse pós-traumático – limiar atencional aumentado para o despertar durante o sono
Fobia social – dificuldade para se expor em contextos sociais, com medo de ser avaliado, criticado ou julgado: suor, taquicardia, tremores, rubor facial e boca seca
Até 76% dos pacientes com depressão ou transtorno de ansiedade apresentam sintomas somáticos, o que deve ser um alerta a todos os profissionais da saúde.
A somatização reduz a chance de detecção dos transtornos ansiosos, para os clínicos, entre 77% e 22%.
Ansiedade e depressão em condições médicas
A ansiedade e a depressão são mais frequentes nas populações hospitalares que apresentam condições clínicas ou em pacientes com quadros orgânicos relevantes. Infelizmente, ainda há muita negligência ou desconhecimento por parte de alguns profissionais que assistem tais pacientes, raramente, o diagnóstico correto do transtorno mental é realizado.
As pacientes geralmente não procuram tratamento ou mesmo não recebem tal tratamento para a ansiedade quando têm alguma doença clínica associada.
Segundo um estudo comunitário denominado “Perth Community Stroke Study”, publicado na renomada revista científica Cerebrovascular Disease, de 2003, a prevalência de ansiedade pós-AVC (acidente vascular cerebral ou “derrame”) foi de 9% para os homens e de 20% para as mulheres.
TAG e transtorno do pânico são associados com aumento da prevalência de disfunção tireóide nas mulheres, e tais quadros também passam despercebidos em certas situações.
Há sobreposição entre os sintomas de ansiedade e hipertireoidismo.
Os sintomas comuns podem incluir: insônia, ansiedade psíquica, perda de peso, sintomas cardiovasculares e impedimento do exercício de atividades.
A dor crônica é frequentemente associada com transtornos ansiosos. Geralmente, as queixas são inespecíficas. As mulheres geralmente têm mais dor, devido ao gênero e à elevada ansiedade.