Anvisa inclui maconha em sua lista de plantas medicinais

por Danilo Baltieri

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) incluiu a Cannabis sativa na lista das chamadas Denominações Comuns Brasileiras (DCB), ou seja, no rol de substâncias que são ou podem ser de interesse para a indústria farmacêutica Brasileira. Isso não significa que a Cannabis sativa passa a ser reconhecida neste momento como uma planta medicinal (para mais informações, ver portal.anvisa.gov.br). Isso significa que o país abre possibilidades para pesquisas clínicas e farmacológicas sobre a eficácia e segurança terapêutica dos vários componentes presentes nesta planta.

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Mais do que 480 componentes ativos têm sido identificados na planta Cannabis e, dentre eles, estão, por exemplo, os chamados canabinoides. O Delta9-Tetraidrocanabinol (THC) e o Cannabidiol são dois destes e cada um deles tem seus subtipos a partir de pequenas diferenças nas suas moléculas.

Como tenho reiterado neste site, uma droga não é boa ou má por si só. Uma medicação do tipo benzodiazepínico é bastante útil quando bem indicada e recomendada; contrariamente, esta mesma medicação pode ser extremamente nociva quando utilizada de forma inadequada e não prescrita por profissional responsável. Mas, devo também reiterar que uma mesma planta pode oferecer inúmeros tipos de componentes ou substâncias ativas com perfis bastante diferenciados, produzindo, dependendo do componente, efeitos benéficos, maléficos e, até mesmo, fatais.

Cannabis: efeitos dos seus derivados

Também, de qualquer forma, todos os estudos envolvendo o uso de derivados da Cannabis, preocupam-se com os possíveis efeitos dos seus derivados canabinoides, tais como:

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a) Percepção e sensação: fadiga, euforia, modificações sensoriais, sensação de estar diferente, alteração da percepção do tempo, alucinações e outros estados psicóticos;
b) Desempenho e cognição: pensamento fragmentado, perturbação da memória, alteração da marcha, piora ou melhora do desempenho motor;
c) Sistema nervoso: analgesia, relaxamento muscular, aumento do apetite, neuroproteção;
d) Temperatura corporal: redução da temperatura corporal;
e) Sistema cardiovascular: aumento da frequência cardíaca, redução da agregação das plaquetas, vasodilatação periférica, hipotensão ortostática (quando a pessoa se levanta de uma posição sentada);
f) Olhos: olhos vermelhos, redução da pressão intraocular;
g) Sistema respiratório: bronco-dilatação, boca seca, redução da produção salivar;
h) Trato gastrointestinal: retardo do esvaziamento gástrico;
i) Sistema hormonal: atividades sobre o funcionamento dos hormônios sexuais, redução da mobilidade de espermatozoides, desregulação do ciclo menstrual;
j) Sistema imunológico: atividade anti-inflamatória, melhora de determinados tipos de resposta imunológica;
k) Desenvolvimento fetal: má formações, prejuízos cognitivos sérios ao feto, retardo no ganho ponderal (de peso);
l) Material genético e câncer: inibição da síntese de proteínas, atividade antineoplásica (combater tumores).

Como vemos, derivados da Cannabis podem ter efeitos procurados para o tratamento de doenças e podem ter efeitos altamente nocivos para as pessoas.

Dessa forma, pesquisas onerosas e complexas ao redor do mundo têm envidado esforços na identificação de medicações naturais, semissintéticas e sintéticas baseadas nos derivados da Cannabis para melhorar a qualidade de vida de pessoas que padecem de diversos males, tentando “separar” os efeitos indesejáveis dos efeitos terapêuticos.

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A medicação Sativex (Mevatyl, Nabiximols), por exemplo, recentemente aprovada pela ANVISA, tem uma associação do Delta9-Tetraidrocanabinol (THC) com o Cannabidiol. Ela é recomendada para quadros de espasticidade grave, como ocorre em alguns casos de Esclerose Múltipla, quando nenhuma outra forma de manejo farmacológico foi suficientemente promissora. Os principais efeitos colaterais reportados são fadiga, tontura e náuseas. Visão borrada, boca seca e prejuízo da concentração também têm sido registrados. Embora a preocupação com o desenvolvimento de um quadro de síndrome de dependência esteja sempre presente, os estudos, no momento, indicam que esta chance é muito pequena.

Na verdade, o Cannabidiol não induz os típicos efeitos psicológicos produzidos pelo Delta9-Tetraidrocanabinol (THC). No entanto, as duas substâncias derivadas da Cannabis podem interagir. Um estudo demonstrou que o uso concomitante do Delta9-Tetraidrocanabinol (THC) com o Cannabidiol produziu uma redução significativa dos efeitos psíquicos que seriam induzidos se apenas o Delta9-Tetraidrocanabinol (THC) fosse utilizado.

Na verdade, o Cannabidiol é uma substância que atua de maneira bastante complexa sobre o cérebro, inclusive sobre o metabolismo dos canabinoides endógenos (substâncias com estruturas similares e produzidas pelo próprio corpo).

Assim, para aqueles que padecem de transtornos e doenças cujos tratamentos atualmente são escassos ou mesmo falhos, esforços devem sempre ser envidados na descoberta de vias promissoras e promotoras de melhor qualidade de vida.

Seguramente, outros componentes ativos da planta poderão ser mais adequadamente estudados e gerar resultados positivos para todos nós. Com a inclusão da planta no rol das Denominações Comuns Brasileiras, pesquisas poderão ser também mais desenvolvidas no nosso meio e isso é uma boa notícia para a comunidade científica nacional.