por Roberto Shinyashiki
Oi pessoal! Eu tenho duas notícias para dar: uma ótima e a outra péssima. A má notícia é esta: já imaginou uma mulher de 30 anos com depressão? Pois saiba que ela poderá carregá-la por longos 70 anos.
Um homem de 40, que tenha grandes indecisões, vai suportá-las nos próximos 60 anos. Um pessimista de 50 anos carregará seu fardo por mais meio século. Um sacrifício digno de Atlas, aquele que era obrigado a sustentar o mundo nos ombros.
Isso porque, a cada dia, a expectativa de vida está aumentando. A evolução da medicina é tão maravilhosa que fica cada vez mais fácil uma pessoa chegar aos 80, 90 anos. O número das que passam um século está crescendo! Mas isso não é bom? Depende do olhar de cada um.
Ouço muita gente lamentar no vigor dos seus 40 anos. "Não tenho oportunidades. Minha vida acabou". Outros soltam um longo suspiro. "Estou esperando a morte." Mas pelo andar da carruagem, correm o risco de viver muito e ouvir do seu bisneto." O senhor está falando isso há mais de 20 anos e continua firme".
Essas pessoas precisam aprender urgentemente a viver e perceberem que estão no auge da vitalidade para continuarem produzindo e trabalhando. Senão, vão continuar se torturando e, pior, infernizando a vida de quem elas mais amam, podendo afetar também as relações no ambiente de trabalho.
O escritor Austregésilo de Athaíde, que foi presidente da Academia Brasileira de Letras por muitos anos e morreu em idade avançadíssima, rebatia os comentários maldosos sobre seu prolongado mandato com a seguinte frase. "Já fiz o rascunho do discurso de adeus que vou fazer para muita gente".
Nossa vida é feita de ciclos. O fim de um é o início de outro. O diploma do colegial por exemplo, é a promessa da faculdade. Muitas pessoas perdem essa sequência quando chegam no meio do caminho. Ao verem os filhos criados e saindo de casa ou a aposentadoria chegando, dizem a si próprias: "fim da linha".
Elas enfurnam-se em casa e ficam vendo o tempo passar na cadeira de balanço. Mas como? Têm 30, 40 anos pela frente, ou mais, e já tiram o time? Não percebem que um ciclo está acabando e que outro vai começar.
O problema é que elas começam a ficar doentes para encher seu enorme vazio. Arrumam uma dor aqui, uma pontada ali para terem com que se preocupar e chamar a atenção das pessoas. Precisam disso para se sentirem vivas. Mas em vez de perceber que as doenças nascem da sua insatisfação, atribuem à idade. A passagem dos anos se transforma num bode expiatório.
A aposentadoria também é um bode expiatório. E daqueles bem grandes, de cavanhaque e chifres compridos, que mal conseguem passar pela porta. A maioria das pessoas ainda acha que aposentar é parar de trabalhar. Nada de criar, nada de produzir. O que elas fazem, de verdade, é confundir um novo ciclo de vida com esterilidade. E ficam de papo para o ar, morrendo de tédio. Não percebem que a aposentadoria representa o início de um período privilegiado na vida. Vão poder escolher com uma liberdade que talvez jamais tenham tido. Podem decidir o que fazer, onde e como. Manejar seu tempo da forma como achar mais adequada.
Não é regra geral, mas em parte das famílias, os filhos já estão grandes e encaminhados. São uns "cavalões" que já não precisam atrapalhar o sono dos pais porque não chegaram antes da uma ou duas da manhã. Muitas vezes estão morando fora, estudando em outra cidade. Não vão mais morrer de fome se os pais não lhes derem a mesada.
Às vezes penso que algumas pessoas não gostam de liberdade. Ou melhor, não é que não gostem. Não sabem exatamente o que fazer com ela. Parecem canarinhos-do-reino que ficam indecisos quando se veem fora da gaiola. Voam em volta e querem voltar para ela.
Essa fase de liberdade é uma excelente oportunidade para fazer uma revisão de vida. Eu diria que essa fase de "maturescência" é uma espécie de adolescência da vida adulta.
Ao aposentar, questione-se como um adolescente:
O que eu quero dizer é que uma pessoa de 50, 60 anos pode fazer para si mesmo as mesmas perguntas que um adolescente faria.
– Quem sou eu?
– O que é o mundo atual?
– O que eu posso fazer com ele?
– O que eu quero fazer para me realizar como pessoa?
As respostas a essas indagações são importantes porque abrem novos caminhos que poderão permitir uma coisa maravilhosa: recuperar alguns sonhos e projetos adormecidos dentro de nós e que foram esquecidos pelas necessidades imediatas no dia a dia, quando os filhos ainda eram pequenos ou adolescentes.
Não vou enumerar aqui a lista de atividades que um aposentado poderia desempenhar. Daria para dar duas vezes a volta ao mundo. Desde aproveitar seus 30, 35 anos de experiência acumulada em uma profissão e prosseguir na sua vida profissional, em vez de atirá-la pela janela como muitos fazem, ou se integrar a algum voluntariado. Basta olhar ao redor para notar como pessoas e instituições estão precisando de ajuda. Quem tomar esse caminho desfrutará da gratificante sensação do amor. Com certeza não terá tempo para se queixar de dores ou sentir tédio.
Desconfio que essa aposentadoria do não fazer nada é um equívoco. É uma doença social. Mas qual é a boa notícia, se até agora falamos só da má?
A boa notícia é que cada vez vamos viver mais. Isso é muito bom, mas para quem mantém seu processo de vida em constante evolução. Essa pessoa tem um lindo horizonte à vista. Vai ter mais tempo para se dedicar ao neto ou bisneto, para ler livros maravilhosos e assistir muitos filmes. Vai ter muitas oportunidades de trabalho. Vai poder entrar numa escola de pintura ou estudar astronomia. Vai poder viajar e ver coisas incríveis. Essa pessoa terá muito nascer ou pôr-do-sol e muitas noites estreladas pela frente.