Reações desproporcionais, como explodir com o par por se sentir rejeitada, requerem acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico
E-mail enviado por uma leitora:
“Boa noite, tenho certeza absoluta que sou borderline. Luto para não mostrar fragilidade nós momentos de rejeição, mas sei exatamente foi esse o gatilho. Após o momento de explosão, entro em uma teia que eu mesmo crio e, sem poder mostrar arrependimento, preciso manter a postura. Esses momentos pós-crises são os piores: gritos, agressividade, descontrole e fúria. Vou até o limite da dignidade. Estou no meu relacionamento há 6 anos e sinto que minha parceira já não sabe de onde tirar forças para lidar com essas situações. Ela procura não bater de frente, pois sei que já notou meu transtorno. Estou sempre tentando diminui-la e dizendo repetidamente que quero terminar este relacionamento. Posso imaginar a dor que ela sente ao ouvir essas coisas; eu mesma não suportaria estar neste lugar. Desde que me percebi com o transtorno, cerca de 1 ano, tento me controlar e os surtos têm ocorrido num intervalo bem maior que antes, mas ocorreu novamente. Preciso achar uma forma de me estabilizar emocionalmente. Não sei se consigo reverter a situação que se encontra meu relacionamento (completamente minado), mas tenho que me curar. Medicamentos? Terapia?”
Resposta: Parece que você já deu um primeiro passo ao entender que suas tentativas de controle, sem ajuda externa, poderão funcionar apenas parcialmente e por algum tempo.
Por que é preciso se medicar
Transtornos como o seu, independentemente do nome que tenham, estão, geralmente, associados a um distúrbio bioquímico. Isso significa que algum componente químico do seu organismo está faltando ou está sobrando. Tentando explicar melhor: para nos sentirmos bem, emocionalmente falando, nosso organismo tem que produzir determinados elementos químicos que nos equilibram. Caso um desses elementos químicos não sejam produzidos na medida correta, podemos nos sentir muito irritados, deprimidos, eufóricos etc. Nesse caso, para estimular a produção desses componentes, os medicamentos se fazem necessários. Assim, respondendo a uma parte da sua questão, sim, os medicamentos, no seu caso, podem ajudar bastante. É claro que esse tipo de medicamento deve ser prescrito por um profissional gabaritando e especializado, no caso, um psiquiatra.
Também é importante dizer que os medicamentos prescritos em casos como o seu devem ser tomados regularmente segundo a prescrição, pelo tempo que for necessário e não apenas quando você se sentir descontrolada. Certamente o seu comportamento, embora possa estar ligado a esse descontrole bioquímico, também tem que ser reavaliado. Você já entendeu que esse comportamento pode destruir não só o seu relacionamento amoroso, mas qualquer outro relacionamento social.
Como lidar com uma suposta rejeição
Assim, embora o medicamento possa ajudar bastante no controle de suas crises, não podemos esquecer que existem algumas situações que, como você mesma já percebeu, são detonadoras das crises. A rejeição é uma delas. E você já se acostumou a reagir à rejeição com gritos, agressividade e fúria, segundo suas próprias palavras. Então, seria importante que você “aprendesse” , através de uma terapia , a entender por que a avaliação do outro a seu respeito (rejeição) é vivida de forma tão pesada por você; aprender como se valorizar mais mesmo quando o outro não te valoriza; e aprender a desenvolver mecanismos para mudar a dinâmica do seu emocional que funciona sempre nos limites, ora reprimindo todos os seus sentimentos, ora liberando-os de uma forma primitiva, irracional e perigosa. A terapia pode ajudar bastante na medida em que tenta desvendar o seu funcionamento interno, descobrir os gatilhos envolvidos em suas crises e apontar caminhos para um controle mais eficiente de comportamentos que se tornaram hábitos não eficientes e nada saudáveis.
Olha… você mesma pode tentar mudar…
Independentemente da terapia, você mesma pode tentar mudar alguns aspectos do seu comportamento que atrapalham, principalmente seu relacionamento amoroso. Você diz que durante as crises acaba falando coisas horríveis para a sua companheira. Talvez, sabendo disso, em momentos de crise seja melhor você se isolar para não correr o risco de machucar ninguém. A crise sempre acaba passando, mas as marcas das ofensas acabam se perpetuando no relacionamento.
Finalmente, lembre-se que ao avaliar se você está melhorando, é importante basear-se em realidades e não ideais. Certamente você gostaria de se sentir sempre em equilíbrio, livre desses surtos que tanto a incomodam. Mas melhorar não é se transformar em outra pessoa. Você, provavelmente, sempre terá uma tendência a oscilações de comportamento. Como quase todo mundo, aliás. O importante é que essas oscilações não sejam frequentes e que, quando ocorrerem, não causem estragos em seus relacionamentos nem em sua autoestima
Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.