por Antônio Carlos Amador
“Existem muitas pessoas, porém, que se recusam a aprender com os erros do passado…”
Se voltarmos nossa atenção para nossos relacionamentos passados, tornar-se-á mais fácil notar a presença constante e ativa de um denominador comum a todos, o qual sempre determinou a repetição sistemática das mesmas dificuldades.
Algumas pessoas percebem que são inevitavelmente atraídas por aqueles que as tratam mal ou que parecem rejeitá-las; outras perceberão que escolhem sempre um companheiro de personalidade mais forte do que a delas ou de caráter prepotente; outras ainda, que são fascinadas por quem tem uma posição social superior à sua, ou uma idade mais avançada. Os exemplos são infindáveis.
Cada indivíduo pode procurar entender quais são os motivos que despertam nele o íntimo desejo de estabelecer uma relação afetiva com outra pessoa. Mas, quando ela termina, é necessário que se faça um balanço, focalizando a atenção na lembrança do próprio comportamento anterior, comparando-o com o atual. Essa busca pessoal revelará o fato de que, no início de cada relação, a pessoa sente-se no paraíso, entusiasmada e segura, enquanto que no final retorna à Terra, desiludida e triste.
Esclarecer para nós mesmos as mudanças sofridas e as razões que as determinaram tornará mais fácil fazer um balanço sério: poderão ser aceitas aquelas mudanças que representam um amadurecimento, enquanto, por outro lado, poderemos reencontrar aspectos da própria personalidade que amávamos e que foram perdidos. Do mesmo modo, será possível compreendermos quais são os aspectos que nos limitam e atrapalham na interação com as outras pessoas, ou seja, quais são os mecanismos inconscientes que entram em cena, estragando nossos relacionamentos.
Existem muitas pessoas, porém, que se recusam a aprender com os erros do passado e que continuam a repetir as mesmas situações de um relacionamento a outro. Embora seja muito difícil mudar a direção das próprias preferências e inclinações, uma verdadeira e positiva mudança na qualidade das relações com os outros é possível. Porque, não depende tanto dos diversos tipos de pessoas com as quais se tenta estabelecê-las, quanto da consciência das próprias necessidades e das próprias fraquezas.
Você e o outro estão em processo de constante mudança
É preciso lembrar também que a natureza de nossos relacionamentos muda continuamente. As pessoas em contato estão sempre mudando, mesmo aquelas que são íntimas, irão se tornar gradativamente estranhas, a menos que se atualizem diariamente, dizendo quem são, em relação a lugares, acontecimentos e outros seres. A pessoa com quem você falou ontem não é a mesma que encontra hoje.
O tempo também muda a qualidade das nossas experiências. É impossível reconstituir ou recriar exatamente a mesma disposição, excitamento ou atmosfera de uma determinada experiência, agora pertencente ao passado. Não podemos revivê-la agora, da mesma forma como a experimentamos. Podemos tentar, mas de alguma forma, a qualidade da experiência será diferente. Pensem em todo o tempo e esforço que desperdiçamos na tentativa de reviver acontecimentos passados emocionantes e memoráveis. Quando tentamos revivê-los, a situação se torna artificial. Nesse caso estamos mais envolvidos com o passado do que com o presente.
O tempo muda as coisas, o tempo muda as pessoas; também muda a natureza das nossas disposições e expectativas individuais. Momentos preciosos não devem ser revividos ou reconstituídos, pois é preciso que permaneçam para sempre únicos e incomparáveis.
É impossível pretender que as pessoas tenham a mesma disposição de quando as deixamos, quer tenham se passado cinco anos ou cinco dias. Lembramos delas de uma maneira, mas, nesse meio tempo, todos nós mudamos. A intimidade, quando genuína, nunca é antecipada; apenas flui, atendendo às nossas necessidades no momento. Cada experiência de intimidade possui uma qualidade própria e única. O tempo determina uma mudança nesse sentido.
Ao longo dos anos somos separados de bons amigos, entes queridos e lugares familiares. Muitas vezes, essa separação acarreta uma experiência inesperada, súbita e desconcertante de estar só. A cada separação há um tipo de experiência de estar só que é única para uma pessoa ou lugar em particular. É assim que deve ser. O valor de um momento ou relacionamento memorável é preservado apenas na medida em que não tentamos reconstituí-lo com outra pessoa no presente.