por Antônio Carlos Amador
O que são as paixões?
A maioria dos psicólogos considera-as como sentimentos ou convicções intensas, fortes ou irresistíveis, que não procedem da vontade e que são vividas com passividade, sobrepondo-se à lucidez e à razão.
As paixões se distinguem das demais emoções e sentimentos por terem maior, ou ao menos a mesma intensidade que estes, e por que tem uma duração maior, nos dando a sensação de sermos dirigidos e dominados por elas, como se estivéssemos sendo arrastados contra nossa vontade.
O amor ardente, o ódio, a vingança, bem como uma arrebatadora preferência ou devoção a uma atividade, objeto, conceito, ou crença podem ter caráter passional quando se manifestam numa tal intensidade, que escapa ao controle da vontade. Apaixonados, ficamos cegos, nos abandonamos às inclinações da vida afetiva, deixando de lado a sensatez e os conteúdos racionais de nosso comportamento: o coração impera sobre a razão, para o bem e para o mal.
Sob a influência das paixões também podemos ter uma vida afetiva mais intensa, coisa que era valorizada por muitos muitos românticos no século XIX. Eles propunham o abandono às próprias paixões, sem autocontrole, para sentir com toda a força a vida anímica, a principal fonte de uma autêntica consciência da existência.
Do mesmo modo que outros processos afetivos, as paixões podem produzir mudanças psicológicas quando as experimentamos. Sofremos uma espécie de deformação em nossas ideias, de modo que supervalorizamos todos aqueles conteúdos que estão de acordo com a paixão, enquanto que eliminamos automaticamente, ou ficamos indiferentes àqueles que estão em desacordo. Deste modo podemos justificar para nós mesmos os comportamentos passionais mais estranhos. Também costumam se manifestar alguns mecanismos psicológicos, como a deformação das percepções. Por exemplo, quando queremos muito uma pessoa, podemos vê-la mais bonita do que ela realmente é. Nós idealizamos o objeto amado.
Também são frequentes os mecanismos psicológicos de projeção, mediante os quais atribuímos a outras pessoas sentimentos ou tendências nossas, que essas pessoas não possuem. Por exemplo, quando apaixonados podemos fazer uma leitura equivocada dos gestos da pessoa querida, considerando como provas de amor comportamentos comuns, sem qualquer significado para ela.
Algumas pessoas ficam mais apaixonadas que outras; quer dizer, estão mais submetidas que a maioria à influência das paixões. São aquelas para as quais a vida afetiva mantém uma certa supremacia sobre os conteúdos mais racionais, e que atuam mais em função de seus sentimentos e tendências do que de sua forma de pensar. Essas pessoas costumam ser impulsivas e sensíveis, muitas vezes imersas em conflitos psicológicos, provenientes dessa discrepância entre sua forma de pensar e seu modo de atuar ou comportar-se.
Finalmente, é importante ressaltar que sob a influência das paixões se produz uma certa perda da liberdade, uma vez que podemos chegar a um ponto em que sejamos praticamente obrigados a desenvolver condutas em sentido contrário àquela trajetória vital que havíamos traçado. Não é fácil lutar contra determinadas paixões, mesmo quando sabemos que podemos nos prejudicar ao segui-las.