por Antonio Carlos Amador
Somos delicados cumprimentando as pessoas?
Sabemos elogiar a roupa bonita de alguém, um penteado ou um êxito profissional?
Costumamos agradecer quando alguém faz o que pedimos?
Levantamo-nos para facilitar a passagem do outro?
Sabemos pedir desculpas quando percebemos que ofendemos?
Sabemos dizer a verdade sem sermos grosseiros?
Costumamos pagar grosserias com grosserias, contribuindo para que haja duas grosserias ao invés de uma?
Falando com os colegas, quando nervosos, costumamos gritar? Ofender as pessoas?
Será que passamos dias sem esboçar um sorriso?
Talvez seja difícil responder a estas e outras questões aparentemente tão simples. Num mundo em que somos estimulados a adotar um estilo de vida frenético, altamente competitivo, entrando na arena das disputas em busca de prêmios e glórias, praticamente não temos tempo para essas reflexões. Na verdade, não nos permitimos isso.
No trabalho deixamos de lado a meta de criar um produto de boa qualidade, ou de prestar de um serviço útil, para nos envolvermos na corrida por um desempenho melhor do que as outras pessoas.
Embora a competição sempre tenha existido na vida dos seres humanos, ela se tornou mais acentuada nos últimos tempos. O ritmo de vida se acelerou, com uma enorme pressão sobre todos nós, intensificando-a. As pessoas sentem a necessidade de superar aqueles que estão a sua volta, seja para manter seu padrão de vida ou mesmo sua autoestima.
As atitudes competitivas são cultivadas e recompensadas em todos os setores. Uma aura de competição envolve os relacionamentos entre as pessoas em todos os ambientes. Poucos aspectos da nossa vida deixam de ser afetados pelo desejo de competir e ganhar. Desejamos ser melhores que os outros em todos os lugares, até mesmo nas atividades de lazer.
Almejamos casas maravilhosas, carros potentes, corpos mais bonitos e saudáveis, parceiros mais atraentes e filhos mais espertos do que os dos nossos amigos. Parece que isso nos dá um falso senso de importância pessoal, ressaltando sentimentos de independência e autossuficiência. Todos queremos nos destacar, realizar algo de espetacular, buscar o máximo ou o melhor que a vida possa nos oferecer. Empenhamo-nos em ser os mais atraentes, os mais inteligentes ou os mais fortes. Só que nos esquecemos de conviver melhor com nossos semelhantes.
O apego à ideia de ganhar, além de acender nossos instintos mais agressivos, pode nos levar a perder contato com nossa sensibilidade em relação aos outros. Porque quando cumprimentamos, dizemos olá para uma pessoa, também estamos dizendo que reconhecemos sua existência. Da mesma forma quando a tratamos com amabilidade, gentileza e atenção.
Mas isso requer um afastamento da postura competitiva autocentrada. Há inúmeros exemplos de pessoas cujo ímpeto de sobrepujar os outros deixa atrás de si um rastro de ressentimentos – pessoas para quem as regras do jogo parecem justificar quais quer meios de se passar adiante. Dispostas a viver num clima de mágoas e desconfiança, elas arriscam qualquer coisa a fim de serem bem-sucedidas no presente, confiantes de que poderão lidar com o que venha a surgir no futuro. Essas não são capazes de dar sequer um “bom dia”.