por Saulo Fong
Há algumas décadas atrás, o flerte e a paquera que acontecia na maioria das cidades brasileiras tinha local e horário para acontecer.
Geralmente, ocorria em praças ou parques e era conhecido também como "footing", onde as moças vestiam o melhor vestido e saíam para caminhar com a intenção de serem observadas pelos rapazes que estavam igualmente bem vestidos.
Nesse contexto, a mulher era geralmente passiva, enquanto cabia ao homem escolher com quem iria iniciar uma interação.
Talvez, esse hábito ainda aconteça em algumas pequenas cidades do Brasil, mas com o passar das décadas, com o surgimento principalmente da internet e de outras ferramentas de encontros, as relações também se desenvolveram.
Com os sites de encontros e, mais recentemente, com aplicativos como o Tinder, conhecer pessoas, fazer amigos e até relacionar-se afetivamente ficou mais fácil para ambos os lados. Um ponto importante no surgimento dessas ferramentas que está transformando as relações, é o nivelamento e equilíbrio do poder entre homens e mulheres. É claro que muitas mulheres ainda utilizam as ferramentas com a mentalidade de que é o homem que deve iniciar a interação. Mas fato é que agora a mulher também tem o poder de escolher dizer sim ou não; e de iniciar ou não uma interação assim como qualquer homem.
Há algumas críticas de que tais ferramentas estejam deixando as relações mais superficiais, entretanto, não acredito que sejam esses aplicativos que tragam superficialidade às relações, mas sim o medo de cada um de se abrir para o outro. Há pessoas, principalmente homens, que estão se sentindo incomodados com esse equilíbrio de poder e atacam através de rótulos e julgamentos as mulheres que estão se beneficiando com a oportunidade de experimentar se relacionar e conhecer outros homens. É a insegurança masculina de homens com a mentalidade machista e patriarcal vindo à tona.
O surgimento de ferramentas que facilitam cada vez mais as interações humanas é inevitável. Cabe a nós agora apenas superar o medo de se abrir e se relacionar, abrindo a mente e o coração para aprendermos a interagir com o outro sem possessividade; encarando cada ser humano como um organismo vivo com suas próprias vontades, necessidades e limitações.