por Luiz Alberto Py
Quando me separei da mãe dos meus filhos – depois de quinze anos de casamento-, comecei a desenvolver um longo processo para assumir minha paternidade.
Foi a época em que passei efetivamente a ser pai. Até então, minha mulher cuidava das crianças praticamente sem minha interferência, uma importante parcela de minha relação com eles se dava através dela. Embora eu tivesse convivência com eles, não exercia um papel paterno, não tomava deliberações, nem assumia posições; simplesmente convivia como um companheiro, um colega mais velho, mais forte. Eu funcionava como pai num sentido concreto, providenciando dinheiro para que a mãe comprasse roupas, comida e tudo mais. Pensava que isso era ser pai e me satisfazia com tal comportamento e seus resultados.
Após a separação, fui percebendo que teria de tomar conta de minha relação com os garotos, que se eu não zelasse por ela, ela não se desenvolveria, não sobreviveria; da mesma maneira que se eu não providenciasse, não haveria almoço e jantar à mesa, a cada dia. A perspectiva de perder meus filhos, de que eles deixassem de me ter como pai, como referência, me assustou. Não sei se isso poderia realmente chegar a acontecer, mas acreditei que sim e senti necessidade de assumir essa função paterna, que eu havia deixado de lado, por conta da mãe.
Os primeiros tempos foram difíceis. Até hoje me lembro da dor, da aflição que senti quando ela me disse que tinha que brigar com um deles para que ele se dispusesse a ir para minha casa nos meus fins de semana. Havia essa combinação: um fim de semana para ela outro para mim e eu me preparava cuidadosamente para receber os meninos. Foi assustador, mas muito útil, saber que um filho meu não queria ficar comigo por esses dois curtos dias que só se repetiriam dentro de duas semanas. Nessa época também estabeleci que num dia na semana, na terça-feira, eles viriam almoçar comigo. E nas noites de domingo jantávamos juntos. Esta rotina marcou uma importante referência para mim: as ocasiões de funcionar como pai, o que facilitava o exercício da paternidade, embora de uma maneira confusa e precária.
Quando hoje olho para trás, sinto dificuldade em descrever essa trajetória que percorremos – meus filhos e eu – desde um desajeitamento inicial, quando nem eles sabiam muito bem como lidar com o estar comigo (possivelmente ficavam tensos e desejosos de fugir do encontro, como um deles chegou a dizer para a mãe) e nem eu, atrapalhado, conseguia cumprir com disciplina esta parte de meu compromisso de paternidade. Mas assim começamos a aprender a conviver e sermos, mais integralmente, filhos e pai.