por Rosemeire Zago
Quando passamos por um momento de perda, pelo fato de ter havido uma separação, o mais indicado para uma recuperação é a consciência do que ocorreu e do que está sentindo.
É um momento marcado por muita confusão, dúvidas, com a única certeza do desejo de querer paz e ser valorizado por tudo aquilo que se tem de melhor. Durante o período da saudade, vive-se uma alternância de raiva e tristeza. Raiva pelo que aconteceu e da forma que aconteceu e tristeza por tudo de bom que se viveu e não vive mais. A saudade é pelos momentos bons vividos, esquecendo-se muitas vezes do real motivo que motivou a separação.
Conseguir examinar a relação passada com objetividade e serenidade não é uma tarefa simples, principalmente para quem não está acostumado a refletir e analisar suas próprias emoções e sentimentos. Mas é o caminho que poderá aumentar a consciência de si, dos próprios limites, e evitar buscar culpados, como algumas pessoas tendem no final de um relacionamento, sem jamais chegar de fato às causas dos problemas que aos poucos foram se instalando.
É preciso analisar com o maior distanciamento possível a relação passada e avaliar os fatores que influenciaram essa decisão, compreendendo o passado, tudo que ocorreu, lembrar de fatos e o que levou cada um a tomar as atitudes que foram tomadas e analisar principalmente, em que ponto seu próprio crescimento foi interrompido. Algumas pessoas se separam com muita certeza do que querem; mas outras, no entanto, fazem por pura impulsividade, num momento de nervoso, e muitas vezes apenas com o intuito de fazer o outro levar um susto, e sem pensar muito em como irão se sentir com essa decisão e quando percebem já estão separadas e sentindo muita dor.
Umas das características da separação é deparar-se com a solidão, como também muitas pessoas evitam a separação por medo de sentirem-se sós. Ainda que existam filhos, há a solidão de estar sozinho com os próprios sentimentos, medos e tudo mais que a separação provoca. Esse é um dos motivos que podem fazer uma pessoa envolver-se com outra logo após uma separação: o medo de ficar só. O mais aconselhável é dar um tempo para si mesmo, pois só estará efetivamente aberto para uma nova relação a dois quando for capaz de enfrentar a vida sozinho, a menos que já tenha a certeza de que a relação passada não deixou nenhum vestígio, o que raramente acontece.
Envolvendo-se muito rápido num novo relacionamento, corre-se o risco de levar consigo todos os comportamentos negativos da relação passada. É como se a falta de vínculo criasse um vazio enorme, onde a vida parece sem sentido e nada vale a pena, sentindo que só voltará a viver se tiver outro relacionamento. Enquanto estão sozinhas, muitas pessoas recorrem ao uso de álcool, drogas, comida em excesso ou deixando de alimentar-se como uma fuga, ainda que muitas vezes inconsciente, de uma realidade dolorosa. Mas com certeza, não é negando e nem fugindo do que se sente, é que será o melhor caminho para se livrar de toda a dor. Pois nessa fuga incessante de si mesmo, não se permitindo refletir sobre seus sentimentos e sua realidade, irá manter cada vez mais seu sofrimento e adiar a tão sonhada paz.
O sentimento de solidão na maioria das vezes provoca muita angústia e traz um forte sentimento de autodepreciação e insegurança, com pensamentos frequentes de que nada vale, e que ninguém o ama. O que não é verdade. É preciso se lembrar de quando a relação começou. Havia sonhos, desejos, ilusões, e que por alguns motivos, deixaram de existir.
Solidão
A característica da solidão ainda consiste em nunca ter prazer em ficar só consigo mesmo. Como ficar com alguém que é tão mau, constantemente abandonado, rejeitado, desprezado? Por isso tende a fugir desses sentimentos tão devastadores, e ao invés de eliminar a angústia, alimenta-a ainda mais. É preciso ter consciência que nada adianta manter esses pensamentos de si mesmo, pois com certeza eles não refletem a realidade. Nem se trancar em casa e fechando-se, deixando que o desespero e as lágrimas tomem conta. Como também não irá melhorar ficar sem comer, ou comer em excesso, ou ocupar-se com a vida de outras pessoas, tudo isso só irá agravar esse momento tão delicado.
Essa fuga de nada adianta pelo simples fato de que se pode fugir de tudo, menos de si mesmo e do que está sentindo. É claro que nem todas as pessoas se dão conta de que estão fugindo, pois justificam para si próprias a necessidade de agirem de tal forma.
É essencial se convencer de que ficar sozinho pode ter muitas conquistas importantes, como permitir a introspecção, a reflexão dos fatos, e principalmente, um maior encontro com seu verdadeiro eu. Viver sozinho não significa necessariamente sentir-se só. Afinal, quantas vezes não se sentiu sozinho, mesmo quando estava com a ex-companheira? Ou com amigos e familiares? Não confunda a solidão física com a emocional, pois só se sente só quem abandona a si mesmo. A solidão nasce dentro da própria pessoa, quando ela perde o contato com seu eu interior ou quando procura fugir de um problema, sentimento ou pensamento que a incomoda.
Pense em quantas coisas você deixou de fazer porque o ex não gostava ou por falta de tempo? Quando há uma separação é comum no começo a disponibilidade de tempo assustar e fazer com que se sinta imobilizado, mas passado o período de adaptação, poderá descobrir as inúmeras coisas que poderá fazer por si mesmo. Ao se separar, irá ter muito mais tempo para fazer coisas que gosta e que nem se lembra mais. Por que não visitar uns amigos, ler aqueles livros que comprou e sequer os abriu, dedicar-se a um hobby, fazer um trabalho voluntário? São pequenas coisas que poderão aos poucos lhe trazer de novo o prazer de viver.
De fato, os momentos de saudade e tristeza pelas lembranças do passado são inevitáveis, mas é importante vivê-los consciente de todo o aprendizado, e dar ao passado o direito de existir sem que para isso precise se destruir. Ninguém pode evitar a sensação de abandono e a falta de quem se foi faz em sua vida, mas também ninguém pode te privar de que sinta uma força interior que aos poucos irá adquirir ao se permitir estar em paz consigo mesmo. E isso não tem preço!