Após traição: sair de uma relação monogâmica para uma relação aberta pode ser uma possibilidade?

Por Anette Lewin  

Depoimento de uma leitora:

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“Meu namoro monogâmico de quase dois anos terminou faz pouco tempo porque descobri um relacionamento extraconjugal que ocorre desde do início do nosso namoro. Eu o amo muito ainda e não sei muito bem quem ele é. Talvez ele seja o tipo de pessoa que não sabe ter um relacionamento fechado como propus. Ele sempre traiu suas ex-namoradas, e eu fui mais uma delas. Não sei o que fazer, se devo voltar e perdoá-lo, se devo tentar um relacionamento aberto… Não sei mesmo.”

Resposta: Embora a regra geral dos relacionamentos seja a monogâmica, na prática essa regra não costuma ser seguida à risca.

Quando você diz que teve um “namoro monogâmico”, a verdade é que esse namoro nunca foi monogâmico, pois a relação extraconjugal de seu namorado existiu desde o início do seu namoro.

Frente a essa constatação você, por ainda gostar do seu namorado, se propõe a refletir sobre a possibilidade de uma relação mais aberta. Ou sobre a possibilidade de “perdoar” seu namorado.

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Existe uma diferença bem grande entre aceitar e “perdoar “.  Quando você fala em “perdoar”, supõe se que você ainda acredita que a relação possa ser monogâmica e o perdão seria uma prova de sua generosidade e compreensão. Você “perdoaria” a escapadela desde que ele não repetisse o erro. Mas, como você mesma diz, ele não parece ser uma pessoa talhada para um relacionamento fechado. Assim, para continuar com ele, você teria que viver “perdoando” as traições que, fatalmente, aconteceriam. Vale a pena?

Existem pessoas que vivem bem desse jeito. Armam um jogo em que viram detetives; descobrem as traições , brigam, perdoam e começam tudo de novo. E são felizes desse modo. Se para você esse modelo de relação é satisfatório, o perdão é sua redenção, e a fantasia de um dia conquistá-lo para sempre é sua motivação…valem as tentativas.

Aceitar uma relação aberta quando você gostaria de ter uma relação monogâmica é bem diferente de perdoar e correr atrás de um ideal utópico. Relações abertas requerem maturidade emocional principalmente se elas acontecem como uma concessão e não como uma opção. No seu caso, mesmo que para ele possa ser uma opção, para você não é. Resumindo: ou você teria que viver concedendo, ou teria que trabalhar sua cabeça para aceitar um padrão de relacionamento que não é o que você escolheu. Será que consegue?

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Relacionamento aberto também possui regras e limites
 
Se achar que consegue, sempre é bom estabelecer as regras desse relacionamento aberto. Sim, não é por que o relacionamento é aberto que ele não tem regras ou limites. Existem relacionamentos abertos em que os casos extraconjugais são contados ao parceiro, outros em que não são contados, outros ainda onde há a inclusão de terceiras pessoas ou outros casais no próprio relacionamento. Assim, é importante que se estabeleça entre o casal o que pode e o que não pode. Levando-se em conta a sensibilidade de cada um para esse tipo de vínculo.

E costuma dar certo, você perguntará?

Pode dar certo quando as pessoas envolvidas têm uma maturidade emocional grande e se sentem capazes de lidar bem, por exemplo, com o encanto que uma terceira pessoa pode provocar no parceiro (em relações abertas expostas) ou com a ausência do parceiro (em relações abertas mas não expostas).

Voltando ao seu caso, só existe um meio de saber se um relacionamento aberto entre vocês se sustenta: tentando. Você já sabe da tendência de seu namorado a ter outros vínculos. Converse com ele e tente, em primeiro lugar, ver se ele aceitaria a proposta de uma relação aberta. E não se surpreenda se ele se recusar. Para muitos, a traição é um estímulo que traz sensações de perigo que alguns não querem perder. Em outras palavras, para muitos sem traição não há emoção.

Se, porém, seu namorado aceitar a proposta, fique atenta aos sentimentos que esse tipo de relacionamento provoca em você. Se a angústia e a ansiedade continuarem a ser suas parceiras mais constantes, como acontece neste momento em que você escreve, certamente essa não é a solução para você por mais que goste dele. Se, porém, esse tipo de vínculo trouxer uma aproximação entre vocês e uma sensação de liberdade boa para ambos, sintam-se privilegiados. Vocês fazem parte de uma minoria que conseguiu prescindir das regras estabelecidas por terceiros e criar seu próprio código de conduta.
    
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.