por Regina Wielenska
Estou ciente de que departamentos de recursos humanos de algumas grandes corporações estão desenvolvendo programas visando preparar seus funcionários em vias de aposentadoria para as novas condições que regularão suas existências depois que saírem da empresa.
Interessante, já que a vida continua e resta ao indivíduo descobrir em quais bases ele irá se apoiar.
Quero comentar sobre essas mudanças. Para boa parte das pessoas, aquelas sem previdência privada ou reservas financeiras graúdas, parar de trabalhar pode ser um susto, pela redução da renda a cada ano, visto que os reajustes de aposentadoria normalmente não acompanham as despesas crescentes. Alguns perdem também a cesta básica, o convênio médico e odontológico para si e familiares, entre outros benefícios.
Então, se preparar para uma aposentadoria feliz significa, entre outros aspectos, economizar com muita antecipação, enquanto ainda há tempo, de forma a não se precisar viver depois na dependência da duvidosa e precária caridade de filhos ou outros parentes. Na nossa cultura de consumo desenfreado isso pode parecer inviável, e reconheço ser difícil, mas a cada um cabe como descobrir maneiras de fazer um fundo pessoal para as emergências ou para uma fase de menor prosperidade no futuro.
Outro aspecto a se considerar: em quais pilastras você sustenta sua identidade?
O papel profissional exerce qual poder definidor sobre o seu eu?
Algumas pessoas parecem sugar do cargo que ocupam os nutrientes para sua autoestima. Cessada a ocupação do cargo, se tornam zumbis, vagando sem função mundo afora. Em contraposição, há quem entenda que o trabalho naquela firma é apenas parte do eu. Esse se define também pela relação com os amigos, pelo gosto de assistir ou praticar algum esporte ou fazer atividade física como dança ou caminhada, pelas vias do trabalho voluntário, da apreciação das artes, etc.. Pessoas assim estão antenadas com o mundo, tanto ou mais do que quando ocupavam o posto x na corporação y. Desse modo, conseguem obter prazeres variados na vida, permanecem naturalmente ocupadas com afazeres interessantes , empenham-se com mais afinco nos velhos prazeres, ou descobrem possibilidades novas, que estimulem sua mente e corpo e tragam o sentido de propósito ao viver.
Existem aposentados que continuam a trabalhar, por gosto ou necessidade, e não entendo que isso seja um problema, desde que a escolha tenha por função enriquecer a vida, sem se tornar uma adicção, uma dependência similar à do indivíduo que deixou de abusar do álcool, e passou a fumar em dobro.
A aposentadora pode ser até a chance de fazer um novo curso, que requalifique profissionalmente o indivíduo. Conheci um senhor que se graduou em Geografia depois que se aposentou do banco onde trabalhava, com filhos criados e netos a caminho. Seu sonho era cursar a universidade, e para ele ser professor parecia uma opção, sempre incentivou o estudo dos filhos, mas não dispunha de tempo nem recursos para bancar sua própria educação. Aposentado, com tempo livre e aposentadoria turbinada pelo fundo de pensão do banco onde trabalhou, pôde realizar um sonho. Na formatura, foi o mais aplaudido.
Aposentadoria pode ser uma experiência muito boa, propícia ao crescimento, ao desenvolvimento de habilidades e de relacionamentos. Vai depender de cada um fazer desse evento um inferno ou um paraíso. Para cada fase da vida há um estoque de novidades interessantes, precisamos atentar para as pistas disponíveis e firmar empenho na direção que nos pareça a mais coerente.