por Eliana Bussinger
Ainda que o assunto previdência não saia da mídia, não está claro se as pessoas – e as mulheres, especialmente – compreendam o que é necessário fazer para se adequar às mudanças que se avizinham.
Essa questão, em sua própria essência, é neutra em relação a gêneros, mas devido a fatores específicos, afetará as mulheres de uma maneira muito mais significativa do que os homens. Serão elas que encontrarão maiores dificuldades para se preparar financeiramente para um futuro, que já exige de qualquer indivíduo a responsabilidade pelo acúmulo das reservas financeiras que serão utilizadas na velhice.
Por que as mulheres estariam mais vulneráveis do que os homens?
Desemprego feminino é maior
A questão previdenciária está intimamente ligada ao trabalho (de carteira assinada, ininterrupto, de período integral). Assim funcionam primordialmente a previdência oficial e os fundos de pensão. As mulheres enfrentam séria dificuldade para empregar-se nesse tipo tradicional de mercado. A taxa de desemprego entre as mulheres é substancialmente maior do que a dos homens. Mais do que o dobro diz o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): 13,5% para elas, contra 5,9% para os homens.
Mulheres ganham menos
Quando empregadas, as mulheres ganham em média 30% a menos do que os homens. As diferenças salariais resultam em um perverso efeito cumulativo. Ganhando menos é mais difícil poupar. Segundo o Departamento de Trabalho dos EUA uma mulher americana de 25 anos, com um diploma universitário, receberá ao longo da sua vida cerca de 523.000 dólares a menos do que um universitário homem. Considerando o valor do dinheiro, capitalizado ao longo do tempo, significará uma fortuna perdida. Nos EUA, a diferença salarial é de cerca de 20%. No Brasil, quanto mais a mulher estuda maior a diferença. Segundo o IBGE, a diferença é de 58% quando são analisadas as pessoas com mais de 11 anos de estudo. Portanto, o efeito cumulativo aqui é ainda pior.
Mulheres respondem por ¾ dos idosos
A face da pobreza mundial na terceira idade já é o rosto de uma mulher idosa; três quartos dos idosos vivendo na miséria são mulheres. Para Teresa Heinz Kerry, presidente da Heinz Family Philanthropies, fundadora do Instituto de Mulheres para uma Aposentadoria Segura "Os custos de cuidar dos pais, avós, filhos (não raro adultos) e netos estão fazendo com que a aposentadoria da mulher seja um mito e não uma realidade".
Maior dificuldade de avanço na carreira
Adicionalmente, apesar de maior escolaridade, as mulheres continuam com dificuldade de superar as barreiras promocionais conhecidas como tetos de vidro. Segundo a Receita Federal, 82% dos brasileiros que ganham acima de R$ 10.000,00 por mês são homens.
Mulheres vivem mais
Ao mesmo tempo em que ganham menos, as mulheres vivem mais, quase oito anos a mais no caso brasileiro, o que significa que terão que se preparar para um hiato de tempo maior do que os homens. E com muito menos recursos. É bem verdade, que sabendo administrar seus recursos essa longevidade pode ser favorável na capitalização dos investimentos. Mas a maioria das mulheres não está financeiramente alfabetizada para utilizar instrumentos financeiros a seu favor.
Mais conservadoras ao investir
As mulheres além de terem menos reservas financeiras pessoais, são muito conservadoras e acabam aplicando seu dinheiro em instrumentos financeiros de pouca rentabilidade, ou que não possuam a robustez necessária para resistir a ataques inflacionários contínuos, ainda que baixos. Poucas são as mulheres bancarizadas que aplicam em fundos, previdência privada ou ações. Segundo a Bovespa, apenas 21% dos investidores pessoas físicas são do sexo feminino.
Menor proteção da Previdência Social
As mulheres estarão recebendo seguridade oficial menor e não estão participando de previdência privada (ou fundos de pensão) em proporção adequada.
Sem cobertura privada
Além de ganhar menos, e também porque trabalham em empregos temporários, ou autônomos, as mulheres estão menos propensas do que os homens a trabalhar para empresas que possuam planos de previdência privada.
Menor conhecimento financeiro
Além da dificuldade de adquirir ativos, especialmente os previdenciários, as mulheres têm dificuldade tanto de expandi-los quanto de mantê-los. A habilidade de adquirir ativos depende das receitas, que já vimos são menores no caso feminino. A habilidade de expandi-los depende do conhecimento financeiro, menor entre as mulheres. E a habilidade de mantê-los depende tanto do conhecimento financeiro quanto de uma certa dose de "egoísmo". Ou do estabelecimento de prioridades. A mulher raramente se coloca em primeiro lugar. Envolvidas em cuidados com os outros, encontram séria dificuldade em visualizar um futuro financeiro mais longo para si próprias.
Queda da qualidade de vida
Aquelas que já estão se aproximando da terceira idade estão mais vulneráveis, porque fazem parte de uma geração pioneira, cujo ingresso ainda é muito recente no mercado de trabalho. A prova disso é que 77,8% dos aposentados brasileiros são homens, diz o IBGE. Não é difícil perceber que uma geração inteira de mulheres enfrentará, no Brasil, seriíssimo declínio na qualidade de vida na velhice.
Enfim, muitos são os fatores que estão contribuindo para que a vulnerabilidade feminina frente à velhice seja uma realidade. Para evitar os riscos de desamparo na terceira idade, quando a vulnerabilidade é imensa, as mulheres precisam buscar meios adicionais de gerar renda que vão além das fontes tradicionais, alfabetizar-se financeiramente e compreender as novas trilhas que estão se formando na contínua evolução da sociedade.