por Patricia Gebrim
Tolerância. Ah… como é difícil colocar em prática a essência dessa palavra.
Por que é tão difícil tolerar que alguém entre na frente de nosso carro no trânsito? Por que é tão difícil tolerar quando alguém comete um engano? Tolerar as características de quem convive conosco. Tolerar um atraso. Um esquecimento. Um erro. Tolerar as diferenças. Tolerar as frustrações. Tolerar as falhas humanas. Tolerar a nós mesmos.
Pense nisso por um instante. Pense na sua intolerância. Se não souber do que estou falando, preste atenção naquelas vezes em que uma mínima ação do outro despertou um monstro assassino em você. Algo tem que estar errado nisso! Será que a ação do outro era assim tão grave?
Muitos de nós parecemos bombas-relógio prestes a explodir. Por onde andamos somos perseguidos por um tique-taque infernal, o que me faz lembrar do Capitão Gancho. Só que, diferente daquele homem barbudo, “horrível e mau”, nos identificamos com os “mocinhos”. (Você já pensou que talvez o Capitão Gancho também achasse que Peter Pan fosse o vilão da estória?).
Vou lhe dizer uma coisa. Dói muito quando percebemos que carregamos um vilão dentro de nós. Dói perceber que agredimos e ferimos aos outros porque somos ignorantes ao nosso próprio respeito. Dói perceber que temos uma dificuldade enorme em olhar para o espelho e ver o reflexo do monstro adormecido dentro de nós.
Mas enquanto não formos corajosos o suficiente para fazer isso, continuaremos por aí agindo como granadas humanas. Basta que alguém distraído puxe o tal pininho e… bummmmmm… explodimos! E justificamos a explosão com uma elaborada rede de argumentos racionalmente plausíveis. A nossa mente pode justificar qualquer coisa, até mesmo uma explosão. E, na distorcida lógica da mente, a culpa é sempre do outro.
Para que você seja capaz de ter tolerância, é preciso ir além da mente. É preciso que você recupere o acesso ao seu coração. Anda faltando amor em nossas vidas.
Eu convido você a exercitar essa palavra em sua vida.
– Tolerar quando alguém intolerante “esquece a mão na buzina”, porque você se distraiu e perdeu o tempo do semáforo.
– Tolerar quando perceber que alguém que você ama está irritado.
– Tolerar seu próprio mau humor e se lembrar que todos acordam mau humorados de vez em quando.
Não quero propor nesse artigo que você tolere abusos ou atos agressivos contra você ou alguém. É claro que muitas coisas não devem ser toleradas e eu conto aqui com o seu bom senso.
Mas o que eu penso é que, de verdade, andamos intolerantes demais! Basta uma atitude do outro (“interpretada” por nós como provocativa) e já nos perdemos de nós mesmos e entramos naquela mesma sintonia destrituva. É disso que estou falando. Da nossa incapacidade de nos mantermos em uma sintonia de paz. Da nossa incapacidade de compreender que algumas coisas não nos pertencem.
Ouça: A irritação do outro não lhe pertence! A agressividade do outro não lhe pertence.
Por que nos conectarmos com o que não é nosso? Deixe com o outro o que é do outro. Você não precisa entrar na mesma sintonia. Isso tem a ver com tolerância.
Ao praticar a tolerância, talvez você comece a semear paz ao seu redor. Talvez isso comece como um pequeno jardim, pequenas flores brancas surgindo aqui e ali… mas não despreze seu potencial transformador. Perceba que todos nós somos como prismas multifacetados. Ao praticar a tolerância você estará emitindo inúmeros reflexos dessa qualidade ao seu redor e então, quase magicamente, talvez você comece a perceber que as pessoas à sua volta começam a se tornar tolerantes também. E assim se cria um espaço no qual se estabelecem relações mais respeitosas e harmoniosas.
Acredite. Você precisa muito de paz. Meu convite: exercite a tolerância. Nem que seja só por uma hora… Depois vá expandindo. Um dia… uma semana.
Observe as transformações que esse simples exercício pode efetuar em sua vida!