Por Martin Portner
Tenho visto que boa parte dos brasileiros está se habituando a ouvir falar de mindfulness. Lá fora, todos falam e praticam mindfulness a toda hora. Aqui, alguns decidiram descobrir a novidade.
Mindfulness, na sua forma mais simples, significa dar atenção irrestrita ao momento presente, sem julgamento de valor para as ideias que podem surgir. Uma espécie de zenzismo consciente por alguns minutos.
Essa atenção, uma vez praticada regularmente, ajuda a reduzir o estresse, a ansiedade, os conflitos, além de aumentar a resiliência e a inteligência emocional. Há mais duas pérolas, estas ligadas ao ambiente de trabalho: a melhora da comunicação (através da empatia) e das sacadas intuitivas.
Ao tentar decidir se você é uma pessoa atenta ao momento presente, considere os seguintes pontos. Na última semana, você se percebeu:
• Incapaz de lembrar o que os outros disseram durante as conversas?
• Sem recordação dos seus deslocamentos diários? Quem você visitou?
• Comendo sem provar da sua comida?
• Prestando mais atenção ao celular do que com aqueles próximos a você?
• Inquirindo o que o futuro reserva e remoendo tudo que já passou?
• Você está efetivamente lendo este artigo?
Se você respondeu sim, chances são de que você esteja gastando pelo menos algum tempo em piloto automático.
No clima econômico atual, muitos colaboradores de empresas estão sendo solicitados a fazer mais com menos, trabalhando muitas horas com cargas de trabalho pesadas. Mas trabalhar em uma cultura onde o estresse é considerado parte da paisagem é muito contraproducente. Passamos tanto tempo correndo de uma tarefa para outra que começamos a achar que estamos sendo eficientes, que nos tornamos multitaskers produtivos; mas, no que se refere ao cérebro, estamos remando contra a correnteza. Em algum tempo, vamos passar a bater os pinos.
Os benefícios neurológicos dos exercícios da atenção no aqui e agora são vários, mas a maximização da inteligência emocional é a joia da coroa; especificamente, ela resulta na capacidade de incrementar os circuitos do cérebro social – leia-se empatia mais eficiente – e na capacidade de autorregulação das emoções pessoais. Esta última faz com que deixemos de aceitar nossas emoções passivamente, em modo “sequestro”, em que somos meros protagonistas do que acontece; em vez disso, nos tornamos capazes de trazê-las às nossas mãos e perceber a sua utilidade naquele momento.
Bem, vamos combinar, a partir daí nos tornamos muito mais capazes de gerenciar conflitos e de nos comunicar de forma ampla. A atenção plena também permite o uso do “dar um passo para trás” para considerar alternativas e instigar o cérebro no rumo de decisões mais criativas. Assim, o mindfulness se transforma em uma técnica capaz de ativar as partes inteligentes do cérebro e nos empoderar no controle das emoções e dos pensamentos.
Pessoas habituadas ao mindfulness dizem que o exercício da atenção no local de trabalho não impede que conflitos ou questões difíceis surjam. Mas ao surgirem, elas são mais propensas a serem prontamente identificadas e reconhecidas pela equipe. Com o tempo, aprendemos a desenvolver recursos internos que nos ajudam a navegar em situações difíceis, estressantes, com mais facilidade, conforto e graça.
Uma prática simples de mindfulness no ambiente de trabalho é a meditação de três minutos. Encontre um lugar calmo e concentre sua atenção na respiração. Procure tornar a expiração (a saída de ar de dentro do peito) mais longa e lenta, algo parecido com o deslize sobre uma prancha nas encostas das dunas dos Lençóis Maranhenses. Se sua mente vagar (como provavelmente irá), traga a sua concentração de volta à respiração. Aliás, esse exercício de retorno da divagação à respiração é especialmente bem-vindo – trata-se virtualmente do mecanismo envolvido no reforço da atenção e da formação das novas células.
Três minutos exigem, na média, de 18 a 20 respirações. Mas depois da última, sua mente não mais será mais a mesma das primeiras. Experimente. É algo que está fazendo muito sucesso no mundo desenvolvido e cujo custo de importação é zero.
Fonte: Martin Portner é Médico Neurologista, Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em mindfulness