Por Martin Portner
Na sociedade hiperconectada de hoje, corremos o risco de nos tornarmos vítimas da sobrecarga de informação.
Parece que parar e não fazer nada é a mesma coisa que engatinhar enquanto os outros correm; a tentação de "acabar com essa tarefa de uma vez" ou "descobrir tudo pelo Google" é forte demais para ser resistida.
Mas trabalhar mais não é necessariamente trabalhar da forma mais inteligente. Dar um tempo e não fazer nada pode induzir estados de espírito capazes de alimentar a imaginação e aumentar a inteligência. Mas não fazer nada é habilidade que precisa ser aprendida – e ela pode ser desconcertante no início.
O problema é que fazer pode se tornar uma espécie de compulsão, um vício que só passa despercebido porque a sociedade nos enaltece por isso. Mas aprender a não fazer nada pode nos fazer prosperar em meio a uma cultura frenética, sobrecarregada e perenemente conectada. Aqui estão cinco razões pelas quais sua inteligência vai melhorar ao não fazer nada:
1. Fazer nada não é, de fato, não fazer coisa alguma
O que geralmente se entende por não fazer nada é não fazer nada de útil. O problema é como esse útil é definido – a suposta utilidade nem sempre atende aos nossos interesses. Trabalhar mais para ganhar mais significa poder comprar mais coisas. Isso é útil para as pessoas que as vendem, mas não necessariamente para que as compram. Essa chamada utilidade está, de fato, voltada para o futuro e ela simplesmente nos afasta do presente. Focar no futuro literalmente impede que a vida seja saboreada. Não fazer nada é sinônimo de sentir-se vivo.
2. O ócio criativo
Há uma boa razão para tantos autores e artistas incorporarem caminhadas em suas rotinas diárias. Trata-se de um efeito bem estudado – deixar de se concentrar em um projeto dá a necessária permissão para o subconsciente trabalhar nele. Em um estudo, as pessoas que sabiam que retornariam a uma tarefa depois de uma pausa melhoraram muito quando retomaram; aqueles que não esperavam retornar à tarefa tiveram desempenho inferior. Isso sugere que no primeiro grupo o processamento inconsciente entrou em cena. No tempo em que deixamos a mente divagar, permitimos que o subconsciente se apodere de circuitos mentais imprevisíveis e construa uma solução criativa.
3. Fazer coisas continuamente não está com nada
Existe entre nós uma tendência para confundirmos esforço com eficácia. Quando gastamos um dia inteiro com pequenas tarefas, nos sentimos exauridos, mas satisfeitos – e concluímos que o que fizemos foi útil. Mas a ocupação pode ser um mecanismo de defesa que adotamos para evitar que pensamentos ou sentimentos nos deixem inquietos.
4. O cérebro requer tempo para não fazer nada
Desde a revolução industrial, seres humanos são tratados como máquinas; fazer mais é melhor para todo mundo. Mas os neurocientistas já descobriram que o cérebro humano depende do tempo em que paramos. O ato de dormir, por exemplo, não é para recarregar as baterias, mas para processar dados que inundaram nossa consciência durante o dia. O sono consolida a memória e reforça o aprendizado, fortalecendo os caminhos neurais para que as ações bem-sucedidas possam ser repetidas.
5. Quem é o dono da sua atenção?
Em tempos modernos a economia – especialmente online – trava uma batalha feroz por sua atenção. A boa notícia é que aprender a não fazer nada pode ajudá-lo a retomar o controle da sua atenção. Um exercício de meditação breve, conhecido por mindfulness, é uma forma programada de não fazer nada. Você interrompe sua rotina, senta-se confortavelmente e concentra a atenção na sua respiração – em nada mais, suavemente afastando pensamentos não convidados durante o período de 20 minutos.
Um estudo demonstrou que essa forma de não fazer nada aumenta o quociente de inteligência em 23%; outro revelou que uma forma específica de Inteligência conhecida como inteligência líquida (a capacidade de resolver problemas novos) aumenta dez vezes mais.
O caminho parece ser claro: manter a correria, porém com lapsos de tempo suficientes para deixarmos a mente livre e focar no nada. Um exemplo onde menos é seguramente mais.
Fonte: Martin Portner é Médico Neurologista, Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness.